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Banquinhos: uma paixão nacional

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  (Foto: Raphael Briest)

O banquinho é o tipo de peça que só nos damos conta de que existe quando nos falta, porque sua presença é tão indispensável como sutil. Pequeno, não ocupa espaço e não destoa de nenhuma ambientação – e nós, brasileiros, o usamos em todas as ocasiões. “Ele convida à formação de uma roda, ao diálogo, à informalidade”, pensa Vilma Eid. Sua Galeria Estação reúne exemplares de todos os cantos do país: uns, legítimas obras de arte; outros, em forma de bichos, para o sentar de um ou de vários.

O banco agrega, soma, é o objeto que se carrega daqui para lá, que ajuda a recolher algo na parte de cima do armário. E, se usamos tanto, também produzimos muito, do artesanato mais simples ao design mais sofisticado. O utilizado na ordenha é o milagre dos números primos: tem uma ou três pernas. Veio dele a ideia para um modelo fundamental do mobiliário brasileiro: o Mocho, criado por Sergio Rodrigues. No dicionário, mocho é navio sem mastro, animal sem chifres, árvore sem ramos e banco sem encosto – mais um sinal de seu potencial para a simplicidade.

  (Foto: Raphael Briest )

Veio do campo outro tipo bem-acabado: o banco caipira, com assento duplamente inclinado, que Francisco Fanucci, da Marcenaria Baraúna, recriou, com astúcia de arquiteto. Sua ergonomia encaixa os quadris e ajeita o corpo em uma postura confortável. Sócio de Fanucci e colecionador, Marcelo Ferraz busca explicação para tal sucesso: “talvez o banco seja a forma mais primitiva de apoio, que poderia ser a pedra sob a sombra de uma árvore. Todo banco já tem uma certa despretensão”.

Há mais explicações para o fascínio: a diversidade é um dos motivos, aponta a crítica Adélia Borges. No fim de 2012, ela realizou uma mostra em Amsterdã, inaugurando o espaço expositivo da Droog. Lá estavam 60 exemplares, muitos deles contemporâneos, cada um evidenciando uma origem, uma cultura, um pensar e um fazer. Mas uma coisa todos têm em comum: “Diferentemente das cadeiras, com seus espaldares mais altos ou mais baixos, os bancos não estabelecem hierarquia entre as pessoas, mas criam uma relação de igualdade”, diz Adélia. Segundo ela, herdamos dos índios esse tipo de mobiliário, que foi sendo incorporado e adaptado.

Se ficássemos apenas nos banquinhos indígenas, já teríamos uma infinidade de modelos – são esculturas ora com formato de animal, em peça única de madeira, ora leves como se tivessem derivado do design japonês. O engenheiro Rubem Pereira de Ávila reuniu 3.500 peças em 40 anos. “Passei a levar mais a sério a coleção após uma visita ao Xingu, em 1982”, afirma. Mas o banco pertence a todas as culturas. Em uma palestra proferida por Le Corbusier (no livro Precisões, ed. Cosac naify), o arquiteto discorre sobre mobiliário e começa falando das cadeiras que nos conferem essa ou aquela postura, até que chega ao tamborete turco de 35 cm de altura e 30 cm de diâmetro: “nele, ficaria horas sem me cansar, sentado sobre meu traseiro”.

* Matéria publicada em Casa Vogue #341 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)

  (Foto: Raphael Briest )

 

  (Foto: Raphael Briest )

 

  (Foto: Raphael Briest )

 

   (Foto: Raphael Briest )

 

  (Foto: Celso Brandão / Divulgação )

 

  (Foto: Raphael Briest )

 

  (Foto: Raphael Briest )

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