Em 1991, Kurt Timmermeister comprou uma fazenda de quatro acres (cerca de 16 mil m²) na comunidade rural chamada VashonIsland, em Washington, nos Estados Unidos. Cansado da vida na cidade, ele quis distanciar-se. Investiu então 100 mil dólares em um pedaço de terra cheio de pedras, amoras silvestres e detritos de sua última vida agrícola. O estado das construções também não era dos melhores, mas era o que cabia no orçamento de Timmermeister.
Nos anos que se seguiram, ele manteve uma vida dupla. Durante o dia trabalhava em seu pequeno café na cidade e, à noite, desfrutava de sua nova realidade rural. A jornada lhe custava duas horas. Pouco a pouco este homem, que na França se tornou confeiteiro – isso enquanto estudava Relações Internacionais na Universidade Americana de Paris – foi sentindo crescer em si a vontade de dedicar-se à terra, mesmo vendo seu negócio prosperar na capital.
Mas a mudança de vida definitiva demorou a chegar – 13 anos no total. Antes de se tornar um fazendeiro de fato, Timmermeister trocou o posto de dono de café, para o de restauranteur. Em 1994, ele adquiriu um estabelecimento que lhe rendia algo próximo de 1,5 milhões de dólares ao ano. Por dez anos ele reuniu capital para lançar-se à empreitada que o transformaria por completo. Então, em 2004, Timmermeister vendeu o restaurante e passou a experimentar em seu novo metier.
Com o capital que ergueu, a fazenda liberou-se do encargo de garantir o sustento por cinco anos. “Foi uma transição bastante suave”, diz Timmermeister. “Eu pude pagar todas as minhas contas e experimentar. Eu tentei cultivar vegetais, cidra de maçã e mel e tentei criar ovelhas, porcos e vacas leiteiras”, relembra. Só depois de muitas tentativas falidas, o novo fazendeiro descobriu a sua vocação e a vocação de sua terra. Hoje, Timmermeister é um bem sucedido produtor de queijo.
A sua trajetória de reinvenção pessoal foi acompanhada pela jornada de reforma da casa onde vive. Se em 1991 o que se via no terreno era uma cabana de madeira apodrecida e infestada por roedores e insetos, hoje vê-se ali uma das moradas campestres mais charmosas da região. O restauro desta construção, que data da década de 1880, levou dez anos para ser concluído. Tal demora se deveu ao seu alto custo. “Quando o dinheiro acabava, eu parava a reforma” conta o proprietário.
O primeiro passo foi livrar-se dos elementos mofados e danificados. Em seguida, Timmermeister realocou a construção – que estava afundando no local onde se encontrava, junto à margem do lote. No centro do terreno, o imóvel, que era uma das mais antigas cabanas criadas pelos pioneiros americanos, foi colocada sobre uma fundação forte, feita de concreto. Em dado momento, Timmermeister recebeu do município 25 mil dólares para ajudar na preservação desta residência que ganhava status de marco. Cabe apontar que, segundo o proprietário, o valor total foi dez vezes maior que o auxílio conferido pelo Estado.
A casa, pequena como é, não tem banheiro completo ou cozinha. Em compensação, o seu pé-direito é generoso e a escadaria central é larga. Há na varanda posterior, no entanto, uma banheira onde se pode tomar banho com uma bela vista. Sob a escada, fica um lavabo dotado de assento sanitário e pia. A decoração da morada conta com poucos móveis, entre eles alguns itens interessantes, como a mesa de oftalmo feita artesanalmente e as luminárias feitas com galhadas de veados reais.
A fazenda hoje tem 13 acres (pouco mais de 52,6 mil m²) e demanda sete funcionários. Com a venda de 400 Dinah’s Cheeses por semana para mais de 30 restaurantes e 30 lojas, atualmente Timmermeister tem um ganho anual expressivo, o que ele chama de “um grande sucesso” apesar de ser um montante muito menor do que o obtido no passado com o restaurante. O fato é que viver a vida com a qual se sonhou adiciona ao balanço financeiro um valor incalculável. A felicidade não se conta em moedas e cédulas.