“Só estamos quebrando pedras”, declarou o líder do Talibã Mulla Mohammad Omar, ao explodir, dentre muitas obras milenares, dois enormes budas na província de Bamiyan. Na época, março de 2001, a ordem era que todas as estátuas do Afeganistão fossem destruídas em prol da doutrina islâmica. Isso incluía peças que datavam das idades da pedra e do bronze, os períodos do zoroastrismo, budismo e, até mesmo, o inicio do Islã.
Em razão desse atentado histórico e de saques corriqueiros nas últimas décadas, boa parte da arte antiga e pré-histórica da região foi perdida ou devastada. Estima-se que mais de 70 mil artefatos históricos tenham sido roubados. Tanto que o próprio Museu Nacional do Afeganistão, por exemplo, era conhecido, até há pouco tempo, não por seu acervo, mas por ter tido 70% de sua coleção destruída ou roubada.
Em um grande esforço do próprio museu, e com boa dose de ajuda internacional, parte dessa perda imensurável tem sido recuperada. De 2,5 mil objetos que foram transformados em entulho, mais de 300 foram meticulosamente reconstruídos. E muitos outros ainda aguardam na fila. Além disso, cerca de 11 mil artefatos roubados foram recuperados como resultado de um programa da Interpol e da Unesco, em parceria com governos do mundo inteiro.
Quando reabriu suas portas, em 2004, era fácil confundir o Museu Nacional do Afeganistão com um campo arqueológico. O local estava todo coberto por cacos e pedaços indecifráveis. Mesmo aqueles poucos objetos que permaneceram intactos acabaram se deteriorando. Depois de recolherem tudo, uma equipe de restauradores e arqueólogos de várias nacionalidades tem realizado um trabalho quase milagroso de reconstruir os artefatos. E já conseguiram remontar objetos importantes, como a estátua de Bodhisatva Siddhartha de pernas cruzadas, do séc 2 ou 3 a.C., e que agora tem um lugar de destaque no topo da escadaria do local.
Outra parcela das obras que volta a ser exposta foi preservada, no passado, por pessoas nomeadas de guardiões das chaves, como o presidente da instituição Omara Khan Masoudi. Esses homens foram os responsáveis por manter ocultos esconderijos em que estavam alguns dos mais preciosos tesouros. Em salas secretas do Ministério da Cultura e do próprio museu, escondiam-se os artefatos mais valiosos, que seriam facilmente derretidos, como uma coleção de ornamentos feitos em ouro e prata que data mais de 2 mil anos.
Agora, o objetivo do museu é cuidar o melhor possível de seu patrimônio. Para evitar que atrocidades e roubos aconteçam novamente, o local ganhou um novo sistema de segurança e está passando por um registro digital de todo o acervo. Para isso, um time de arqueólogos do Instituto Oriental da Universidade de Chicago foi cedido por três anos pelo governo norte-americano. Além da segurança, o acervo em curso servirá como fonte de pesquisas para estudantes de todo o mundo.
O próximo passo, que já esta em fase de arrecadação, é construir um novo lar para tantos objetos importantes. Dessa forma, o país trabalha para relembrar uma parcela de sua história, destruída pelo descaso e pelo fanatismo, e, aos poucos, recobra uma parte de sua identidade perdida.