Há 14 anos, pouco antes do nascimento do seu primeiro filho, o casal tinha planos de sair de Barcelona e ir viver em Girona, onde ela, Anna Noguera, cresceu. A pequena cidade litorânea é cercada por vilarejos medievais e fazendas pitorescas. Além disso, o lugar é uma cidade universitária cujos quarteirões estão repletos de relíquias históricas dos iberos, visigodos, judeus, mouros e das forças napoleônicas.
Foi em meio a esse cenário que o casal arrematou, em 2000, uma morada de 500 m². A ideia era ocupar o nível inferior com o escritório de arquitetura de Anna, deixando os andares acima livres para a família. A nova vida em Girona já tinha endereço certo, bastava reformar a construção que estava em mal estado. Então veio o problema: a descoberta de antigas paredes de origem romana congelaram a reforma.
Da noite para o dia, a casa passou a ser território de arqueólogos. Seu achados foram valiosos. Através de inscrições encontradas na estrutura, os especialistas determinaram que a casa havia sido erguida antes do século 16. No terreno foram encontradas relíquias como peças cerâmicas, vidros de perfumes, bolas de canhão e estilhaços de bomba – estes últimos provavelmente da era napoleônica.
Por causa das questões ligadas ao patrimônio, os proprietários não puderam alterar o imóvel por dez anos. E, assim, o sonho de sair de Barcelona ficava cada vez mais distante. Foi só depois de muita disputa judiciária que Anna começou a reforma de sua casa. Ela demoliu um anexo de aparência maciça, removeu o estuque da fachada, revelando as pedras que haviam por baixo dele, e reorganizou o interior do lar.
“Eu recuperei um pouco das características originais do lugar, pois sua crueza combinava bem com o estilo minimalista que instaurei na casa”, explica a arquiteta e moradora. Anna mudou a escada de lugar e levou materiais contemporâneos à morada – entre eles, o concreto e o aço escurecido.
Do lado de fora, ela reformou a cisterna com capacidade para 60 mil litros, que hoje alimenta a piscina de concreto negro e o sistema de irrigação do jardim. Pedras vindas da demolição de algumas partes da casa foram empregadas como acabamento das paredes que cercam a área externa posterior.
Durante os dez anos que a família permaneceu à espera das liberações para reformar seu novo lar, as crianças viveram e se estabeleceram em Barcelona. Hoje, a casa em Girona está pronta, mas ela é apenas uma residência secundária, de veraneio. Ainda assim, Anna e seu marido, Juan Manuel Ribera, mantém o sonho de se mudarem para lá em definitivo.