Quantcast
Channel: Casa Vogue
Viewing all articles
Browse latest Browse all 23614

O furo que mudou a história da arte

$
0
0
Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

O gesto era quase uma punhalada. Armado de instrumento que o jargão policial poderia definir como “cortante-perfurante”, o artista argentino-italiano Lucio Fontana (1899-1968), em 1949, fez um buraco na superfície da tela. Não se tratava, porém, de assassinato, mas de ato inaugural: Fontana estava criando o primeiro trabalho da série Buchi (“buracos” em italiano), marco inicial de seu extenso legado à arte contemporânea. Em 1959, iria mais adiante: munido de uma lâmina, fez os primeiros Tagli (“cortes”) em uma tela. Ambas as séries estarão entre as 200 telas, esculturas, cerâmicas e instalações reunidas pelo Museu de Arte Moderna de Paris – MaM –, para a retrospectiva, a partir de 25 de abril, dedicada aos 115 anos de nascimento deste grande nome do século 20 (até 24 de agosto).

Furos e cortes. E a arte nunca mais foi a mesma. Com eles, Lucio Fontana – que foi também um dos integrantes da arte povera italiana nos anos 1960 – instaurou o que denominou de Concetto Spaziale, ou seja, a investigação do espaço por trás da superfície plana da tela. A pintura deixava, assim, a secular característica bidimensional, de janela ou retângulo destinado à representação ou à abstração, a fim de se transformar em motor para a percepção do ambiente à volta dela.

Essa percepção espacial inovadora surgiu da confluência do raciocínio da pintura com os princípios que norteiam a criação da escultura. Não por acaso, Fontana era filho de escultor. Luigi Fontana foi o responsável por formar o pequeno Lucio, que, mais tarde, estudaria na Academia de Brera, em Milão. Ao olhar a tela, o jovem pintor percebeu que a convenção planar podia e devia ser rompida, para contaminar esse espaço ideal com o espaço real, atrás dela.

Não contente com essa revolução artística, ele também foi pioneiro no uso do neon na arte, incorporando o material nas suas Ambientazioni na forma de gestos gráficos aéreos e luminosos – o que influenciaria desde históricos como Dan Flavin e Julio Le Parc até o jovem mineiro Célio Braga. A mais famosa foi apresentada na Trienal de Milão de 1951 e estará no hall de entrada do MaM de Paris. As Ambientazioni, iniciadas em 1926 e realizadas até o final dos anos 1960, situam seu autor como um dos precursores de um tipo de trabalho que domina amplamente o cenário das artes até hoje: a instalação.

* Matéria publicada em Casa Vogue #343 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 

Retrospectiva Lucio Fontana  (Foto: divulgação)

 


Viewing all articles
Browse latest Browse all 23614


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>