Artistas usam diferentes materiais não só para dialogar, mas também para questionar e dominar a arquitetura. Veja abaixo!
Tumor de madeira - Henrique Oliveira
Já conhecido pelas gigantescas construções que mais parecem tumores arquitetônicos, o paulista Henrique Oliveira estourou em 2009 durante sua participação na Bienal do Mercosul: a escultura Tapumes – Casa dos Leões implodia de uma casa abandonada. Para se aproximar da estética das favelas – e criticar sua natureza parasitária e seu crescimento desordenado –, o artista usa madeira de tapumes que são descascadas, pintadas e remontadas em camadas. Cada lasca é como uma pincelada, e as formas, fluidas e inspiradas em doenças e seres tirados de livros de biologia, sugerem não apenas a percepção do espaço expositivo, mas também o seu domínio. Em Baitogogo, apresentada no Palais de Tokyo, em Paris, Henrique revelou a estrutura do edifício ao prolongar e multiplicar pilares.
_____________________________________________________________________
Caverna de isopor - Snarkitecture
O nome Snarkitecture, dado ao estúdio de design de Daniel Arsham e Alex Mustonen, foi inspirado em um poema de Lewis Carroll chamado The Hunting of the Snark, no qual algumas criaturas procuram uma fera, mas não conhecem sua aparência. “O objetivo é descobrir o lado amórfico da arquitetura. Por isso, fazemos coisas que causam estranhamento”, diz Daniel, que costuma esculpir paredes em vias de derretimento. Na instalação Dig, na Storefront for Art and Architecture, em Nova York, ambos os artistas queriam mostrar outras possibilidades de edificação. Invadiram a galeria com um bloco de isopor e, depois, cavaram-no para formular um novo espaço. “Geralmente, há um processo aditivo nas construções: levantam-se paredes para criar volumes. Com Dig, optamos pelo método de subtração. Chegamos com o volume e, a partir dele, desenhamos os ambientes.”
_____________________________________________________________________
Cipó parasita - Laura Ellen Bacon
“Sempre fui fascinada pela arquitetura e pelo fato de que as formas lineares de prédios já existentes possam ser receptoras das minhas esculturas, que são extremamente orgânicas. Para mim, elas são tecidos musculares e aparentam estar em constante estado de crescimento sobre esse organismo hospedeiro... Sem medo de janelas e chaminés”, afirma a inglesa Laura Ellen Bacon. A partir de suas obras amórficas de cipó, ela cria espaços em busca de estruturas de acolhimento. As rachaduras são intencionais e sugerem o desgaste do trabalho que, segundo ela, luta para sobreviver. A respeito da mostra promovida pelo centro de artes Blackwell, em Bowness-on-Windermere, Inglaterra, explica: “São derramamentos de energia escorrendo de calhas.”
_____________________________________________________________________
Argila do passado - Adrián Villar Rojas
Ruínas instantâneas do futuro – é assim que o argentino Adrián Villar Rojas define suas esculturas de argila. Inspirado pelo próprio material, que seca e racha rapidamente, garantindo a aparência fossilizada, ele apresenta suas criaturas para reclamar um mundo apocalíptico, propondo discussões sobre o conceito de tempo, história, modernidade e futuro. E se seu fungo monstruoso envolvido por tumores apresentado no New Museum, em Nova York, impressionou pelas dimensões, La inocencia de los animales, instalação montada no MoMA PS1, em 2013, que lembrava um anfiteatro demolido, foi além e atravessou as paredes do museu, ignorando qualquer estrutura preestabelecida. Ainda no ano passado, o artista foi convidado para inaugurar a Serpentine Sackler Gallery, em Londres, e, como era de se esperar, as linhas de Zaha Hadid não o inibiram na hora de criar os destroços das suas fantásticas civilizações.
* Matéria publicada em Casa Vogue #342 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)