Dos bairros residenciais de Tóquio ao design District de Miami, passando pelo principal parque de Londres – lugares onde ele foi chamado para deixar sua marca –, não se fala de outro arquiteto. Aos 42 anos, Sou Fujimoto, nascido em Hokkaido e residente em Tóquio, vem recebendo uma aclamação inversamente proporcional à sua idade, em uma profissão cujos grandes gênios costumam ser reconhecidos décadas à frente.
Seus projetos, inspirados em uma volta às raízes do ser humano, costumam arrancar um suspiro de deslumbramento, seguido de um incrédulo “como assim?”. Não é fácil colocar a arquitetura deste japonês em palavras, embora aquela não viva sem estas, como comprova o “papo cabeça” a seguir, que ele teve com Casa Vogue, em entrevista exclusiva. A quem interessar possa: Fujimoto adoraria fazer um projeto no Brasil.
Por que você escolheu a arquitetura?
Desde criança eu gostava de construir coisas. Mas a escolha final veio depois de entrar na universidade. Antes, queria ser físico. Sonhava em fazer trabalhos que reinventassem o mundo, como Einstein. Mas, logo que iniciei os estudos de arquitetura descobri que Le Corbusier e Mies van der Rohe haviam promovido o mesmo tipo de revolução nesse campo e isso me encorajou a seguir adiante.
Você costuma afirmar que seus projetos se parecem mais com cavernas do que com ninhos. O que isso quer dizer?
Ninho é algo que é construído pensando em quem vai habitá-lo. Em contrapartida, caverna é um local que surge independente de quem está lá dentro. Em um lugar assim, desenvolve-se uma interação criativa entre o espaço e seu habitante, que vai descobrindo novas formas de usá-lo e novas maneiras de viver. Acredito que a habitação, no futuro, terá de lidar com a relação entre o ambiente e o homem, em vez de adaptar o espaço ao ser humano.
Morar em uma residência sem paredes, andares ou escadas definidas, como suas casas NA, N e K, muda a forma como as pessoas se relacionam com o seu próprio lar?
Como eu disse, em lugares e cenários onde a forma de utilização não é fixa, o homem fará novas descobertas a cada dia. Creio que, dessa maneira, a própria vida, no cotidiano, ficará surpreendentemente repleta de frescor, pois o mesmo espaço demandará novas possibilidades de uso a cada vez.
A estrutura física dos seus projetos parece ficar mais leve dia após dia. Estaríamos caminhando em direção a uma arquitetura desprovida de elementos arquitetônicos, como pilares, vigas e lajes?
A leveza arquitetônica é muito importante quando o espaço pede por ela. No caso da Casa NA, aquela fluidez tinha uma profunda relação com a configuração do espaço e a vida. No entanto, para mim, a leveza por si só não é o objetivo. Às vezes, paredes grossas ou materiais pesados abrem a consciência das pessoas. Só que, se o intuito é chamar atenção mais para o lugar do que para a arquitetura em si, talvez este seja mesmo o caminho. O Serpentine Pavilion [de 2013, em Londres] foi uma tentativa de se fazer isso, e muito bem-sucedida.
No dia a dia, você se concentra somente na parte criativa ou também se envolve nas obras?
Tanto um quanto o outro são extremamente importantes, porque o conceito só ganha vida por meio da realização. Eu não tenho a arquitetura como puro conceito, vejo-a como um espaço concreto, sempre.
Arquitetos costumam preferir fazer coisas que durem para sempre. Você se preocupa com quanto tempo um projeto seu vai existir?
Com certeza admiro aquilo que persiste à passagem do tempo. No entanto, mesmo que algo exista apenas por alguns meses, como foi o caso do Serpentine Pavilion, acho que aquele conceito e aquele espaço possuem força para permanecer na memória. Essa é a beleza da arquitetura. Há os projetos que se abrem para o futuro porque estarão lá por muito tempo e há aqueles que escancaram o futuro através de um brilho momentâneo. Ambos são maravilhosos!
Você se interessa por arquitetura brasileira? Enxerga alguma relação entre o seu trabalho e o de algum arquiteto brasileiro?
Infelizmente, ainda não consegui visitar o Brasil, mas desejo muito estar aí em um futuro próximo. As obras de arquitetos como Niemeyer, Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha, entre outros, foram fontes de inspiração para mim pela sua simplicidade, diversidade e generosidade. Além disso, tenho muito interesse nas cidades brasileiras, [me parecem] lugares onde as pessoas estão cheias de vida.
Existe alguma chance de termos um projeto by sou Fujimoto no Brasil?
Espero que haja tal oportunidade, com certeza! Acho que a minha arquitetura pode trazer novas ideias ao país, com sua cultura e seu clima peculiares. Estou muito ansioso para que isso aconteça.
* Matéria publicada em Casa Vogue #342 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)