Há anos Scott Omelianuk vem postergando o conserto da calçada em frente a sua casa, um sobrado do século 19 em Hoboken, New Jersey. O máximo que fez até agora foi destruir o cimento e cobri-la com um patchwork de compensados.
Desde a aquisição da morada, há novas necessidades e antigas pendências de reforma, como a revitalização do banheiro principal, que está em projeto desde que se mudou. Pelos cantos, diversas portas antigas continuam amontoadas no hall de entrada e, por todos os lados, há projetos inacabados. Pior, ele ainda adquiriu fama de ranzinza ao reclamar das imagens de perfeição promovidas em programas de TV sobre reformas residenciais.
Não haveria nada de estranho nisso se Scott não fosse o editor da This Old House, a revista de um popular programa de TV da rede norte-americana PBS, que há 35 anos lida com reformas como se fossem obras de arte, com resultados impecáveis. Há 10 anos exercendo essa função, a reforma eterna de sua casa faz de Scott uma verdadeira contradição.
Logo que se mudou, em 1999, ele percebeu o que o aguardava: no primeiro dia, descobriu que cupins estavam devorando uma das vigas centrais. A janela do quarto, de tão velha, caiu sobre ele enquanto dormia, e o aquecedor vertia água como um chafariz, danificando o piso de madeira. Sua namorada, Cara Dubroff, criada em um bairro luxuoso de Manhattan, não havia morrido de amores pela casa caindo aos pedaços. Mas em 2005, após três anos de namoro, disse sim a três grandes aventuras: casar, ter filhos e terminar a reforma – ou pelo menos a parte que envolvia um novo sistema de aquecimento, a substituição da viga desgastada pelos cupins e o conserto das paredes, que estavam não apenas danificadas pela umidade, mas inclinadas.
Scott compartilhava frustrações com os leitores em sua coluna, mas sem entrar em detalhes. Em uma delas, confessou uma derrota, aconselhando que os leitores não tentassem resolver tudo sozinhos. “Contratem um encanador. Tem coisas que não dá para fazer por conta própria”, desabafou. Em outra, lamentava ter em casa “um cabideiro baixo para casacos pequenos”; “o microondas acessível para crianças que, na ausência destas, chegava a ser incômodo” ou “o prazer que teria em ver a casa enlameada com pegadas de uma criança”. Para os amigos, Cara confidenciava que só conseguiria ter um filho ao fim da reforma. “Essa casa parece ser amaldiçoada, deve ser por isso que não consigo engravidar”, dizia.
Quando a coluna não foi publicada em uma edição, leitores preocupados entraram em contato com a redação perguntando se ele ainda era o editor da revista – ou se tinha se machucado em algum conserto na casa. Uma vizinha, porém, o avistou pela janela e desvendou o sumiço: após quatro anos de tentativas, finalmente o casal deu as boas-vindas a um bebê.
E a suspeita de Cara? “Agora tenho certeza de que não era a casa”, conta. Mesmo porque, ela ainda está em reforma.