Sejam revitalizações, extensões ou anexos, grandes obras da arquitetura mundial surgiram a partir de outras preexistentes. Os diálogos a seguir mostram como o bom pode ficar ainda melhor. Confira abaixo!
Berlim - Neues Museum
Construído entre 1841 e 1859, o Neues Museum surgiu do desejo de Frederico Guilherme IV da Prússia de erguer a segunda maior casa de cultura às margens do rio Spree, na Museumsinsel, a ilha que reúne cinco dos mais importantes museus da Alemanha. Durante a 2ª Guerra Mundial, a instituição foi alvo de bombardeios que atingiram algumas das 25 galerias do conjunto neoclássico. Conforme o partido implantado por Paulo Mendes da Rocha na Pinacoteca de São Paulo, David Chipperfield empreendeu, de 2003 a 2009, a proposta de revitalização na área total de 20.500 m² do museu berlinense, criando interferências que conservam e enaltecem o caráter arquitetônico original, como a escadaria branca. A obra rendeu ao inglês o prêmio Mies van der Rohe de 2011 e o projeto de reforma da Neue Nationalgalerie, com entrega prometida para 2015.
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Nova York - Lincoln Center
Entre profissionais como Philip Johnson e Eero Saarinen, que projetaram alguns dos 29 espaços do Lincoln Center, maior complexo de música e dança dos EUA, está o ítalo-americano Pietro Belluschi (1899-1994), autor da Juilliard School e do teatro Alice Tully Hall, inaugurados em 1969. Quatro décadas depois, a modernização destas áreas, levada a cabo pelo escritório Diller Scofidio + Renfro, foi aberta ao público. A reforma integrou esta ala do Lincoln Center à paisagem do lado oeste da rua 65, criando um traçado ousado, conceituado na transparência e no jogo de polígonos convexos triangulares. Formas desse tipo desenham a fachada do Alice Tully Hall, da Juilliard School e do Illumination Lawn (o gramado da foto), tudo obra dos consagrados arquitetos nova-iorquinos – os mesmos que fizeram renascer o High Line, em 2006.
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Londres - Tate Modern
Um dos mais conhecidos exemplos de reutilização de um edifício já existente é a Tate Modern, que deu nova vida à antiga Bankside Power Station, usina geradora de eletricidade projetada pelo inglês Sir Giles Gilbert Scott em 1963. Fechada em 1981, reabriu 20 anos depois, sediando o braço de arte moderna e contemporânea dos museus Tate. Herzog & De Meuron assumiram a arquitetura industrial do prédio, inclusive o gigantesco Turbine Hall, com sua área expositiva de 3.400 m² de piso e pé-direito de 35 m, e acrescentaram uma cobertura de vidro para jogar luz natural no interior do edifício. Em junho de 2013, os três tanques subterrâneos de combustível, que alimentavam a turbina, foram convertidos pela dupla em espaços de performance e videoarte. Para 2016, o museu às margens do Tâmisa promete outra adição: uma torre novamente assinada pelos arquitetos suíços.
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Paris - Ala de Arte Islâmica do Louvre
Em 2005, quando o franco-argelino Rudy Ricciotti e o italiano Mario Bellini foram comissionados para criar a nova área do Museu do Louvre, o desafio era projetar um prédio cuja transparência permitisse admirar o espaço a eles designado – a Cour Visconti, ala neobarroca do século 19 – e ao mesmo tempo pusesse à prova os limites da arquitetura contemporânea, como fizera, em 1989, o sino-americano I. M. Pei com a pirâmide de vidro que se tornou símbolo do segundo maior museu do mundo. Com um budget de 40 milhões de euros, a nova área de 6.800 m², incluindo reserva técnica, foi inaugurada em 2012. Simulando um véu ao vento, o telhado é uma complexa malha metálica dourada, que paira acima de uma colmeia de placas de vidro e tubos de metal pousados sobre oito pilares.
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São Paulo - Museu de Arte Moderna
Criado em 1948, o MAM foi um museu nômade até se estabelecer, em 1982, no lugar atual, que ocupa cerca de mil m² em uma membrana curva de vidro instalada sob a marquise do Parque Ibirapuera, idealizado por Oscar Niemeyer, em 1954. “No local do MAM havia um depósito que, em 1959, foi utilizado na V Bienal por Lina Bo Bardi para a exposição Bahia no Ibirapuera. O espaço era bom, e resolveram que o museu se fixaria ali”, conta Marcelo Ferraz, que, ao lado de André Vainer, foi o arquiteto que trabalhou com Lina no projeto. “Niemeyer não gostava do MAM por ser um intruso ao seu desenho original. Curioso é que o Condephaat, ao tombar o Parque Ibirapuera, tombou junto o MAM, erro que se perpetuará até que o museu ganhe uma sede própria adequada e libere a marquise.” A ver.
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Cleveland – Cleveland Museum of Art
Na onda do revivalismo arquitetônico que tomou conta da virada do século 19 para o 20 surgiu o Cleveland Museum of Art, um dos maiores dos EUA, com mais de 40 mil obras que vêm desde os egípcios, passam por Picasso e chegam a contemporâneos como Chuck Close. Erguido em 1916 em estilo neoclássico pelo escritório Hubbell & Benes, o CMA viu diversas reformas e expansões – a mais notória, uma ala de arquitetura modernista projetada pelo húngaro Marcel Breuer, em 1971. Em 2012, o uruguaio Rafael Viñoly entregou um novo espaço, que ecoa o caminho adotado por Breuer. Unida ao prédio principal e à ala modernista por meio de um átrio com 3.350 m², coberto por uma estrutura de vidro e aço, a intervenção de Viñoly ocasionou a demolição de duas áreas erguidas em 1958 e 1983 e acrescentou 89 mil m² ao campus do museu de Ohio.
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Fort Worth - Kimbell Art Museum
O Estado americano do Texas testemunhou, em novembro de 2013, a abertura do segundo pavilhão do Kimbell Art Museum, obra do genovês Renzo Piano. O primeiro, inaugurado em 1972, foi idealizado por Louis Kahn (1901-1974), de quem Piano foi estagiário, o que pesou a seu favor. Seguindo escala, layout e partido arquitetônico de seu mestre – uma estrutura de concreto e travertino encimada por seis abóbodas cilíndricas paralelas –, o novo pavilhão de 9.383 m², construído à base de vidro, concreto e madeira, remete à arquitetura original, atualizando-a para o século 21. O projeto de expansão ainda corrige o fluxo de entrada ao museu antigo, feito pela fachada de trás do prédio de Kahn. Após sua morte, o edifício recebeu um estacionamento mal-implantado que deslocou o acesso previsto por ele, agora realinhado pelo pupilo, que, por mérito próprio, também se tornou um mestre.
* Matéria publicada em Casa Vogue #342 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)