E deu Japão de novo. Depois de Kenzo Tange, Fumihiko Maki, Tadao Ando, Ryue Nishizawa, Kazuyo Sejima e Toyo Ito, Shigeru Ban é o mais novo profissional do país a ingressar no Olimpo da arquitetura. É dele o Pritzker de 2014, anunciado na tarde desta segunda-feira pela Hyatt Foundation. O Oscar da arquitetura vai para as mãos de um autor versátil, conhecido tanto por seus projetos privados – residências e edifícios comerciais –, quanto por obras públicas – museus, salas de concerto e outros prédios de diferentes usos. Acima de tudo, um arquiteto cuja obra se destaca por sua dimensão humanitária: já há duas décadas Ban visita locais de acidentes e desastres naturais em busca de entender as necessidades das vítimas, para depois construir abrigos e obras comunitárias.
Informado por um representante do júri de que era o ganhador da premiação máxima em sua área, Ban reagiu com cautela: “Receber este prêmio é uma grande honra e, com ele, preciso ter cuidado. Devo continuar a ouvir as pessoas para quem eu trabalho, seja nos projetos residenciais privados, seja nos trabalhos pós-desastres. Eu vejo o prêmio como um incentivo para continuar a fazer o que eu faço – não para mudar, mas para crescer.”
Originalidade, sustentabilidade, economia e uso inteligente dos materiais. Eis as marcas do trabalho do japonês, cuja unidade estética da obra pode não ser tão marcante quanto a de ganhadores do passado (Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, por exemplo, para ficar só nos brasileiros), mas de força conceitual igualmente poderosa.
Ban tem nas estruturas de madeira um de seus artifícios preferidos, como comprovam o Centre Pompidou de Metz, na França, a sede da empresa suíça Tamedia, em Zurique, ou o Pavilhão Japonês da Expo 2000, em Hannover, Alemanha. E traz também no currículo as mais inventivas soluções, como os famosos tubos de papel – feitos a partir de tubos de alumínio onde o papel reciclado é enrolado, colado e tratado com cera à prova de água – material que ele estuda e utiliza em edificações desde o inicio da década de 1990, e que empregou, por exemplo, na reconstrução da catedral de Christchurch, na Nova Zelândia, destruída por um terremoto em 2011.
Foi com estes mesmos tubos de papel que o arquiteto realizou as estruturas de seu primeiro projeto humanitário, os abrigos para os refugiados da guerra Civil de Ruanda, iniciada em 1994. Ao emplacar a ideia junto às Nações Unidas, ela acabou reciclada e aplicada na construção de diversas outras casas temporárias: para as vítimas do terremoto de Kobe, no Japão, em 1995, e de outros desastres ou conflitos na Turquia, na Índia, no Sri Lanka, na China, no Haiti, na Itália e nas Filipinas.
Nascido em Tóquio em 1957, filho de um executivo da Toyota e de uma estilista da alta costura japonesa, Shigeru Ban aproveitou-se de uma ótima educação para enveredar por um caminho bastante próprio. Apesar de sua arquitetura incorporar valores muito em voga nos dias de hoje, especialmente no que diz respeito à ecologia e sustentabilidade, o japonês afiram se pautar por estas questões desde o início: “Quando eu comecei a trabalhar, ninguém falava sobre o meio ambiente. Mas essa forma de fazer as coisas veio naturalmente para mim. Sempre tive interesse nos materiais locais, recicláveis e de baixo custo”. Se a ideia do prêmio, como afirma o seu júri, é “reconhecer arquitetos capazes de contribuir de maneira consistente e significante para a humanidade”, o Pritzker não poderia estar em melhores mãos.