Reconhecido como um importante artista do movimento modernista brasileiro, o muralista Paulo Werneck inovou com seus murais que se integravam perfeitamente a arquitetura, combinando talento artístico e grande conhecimento arquitetônico, adquirido nos tempos em que trabalhava como projetista. Utilizando a técnica do mosaico bizantino, que possibilitava um encaixe mais preciso e maior liberdade criativa, seus murais apresentam grande riqueza de detalhes, com linhas finas e curvas perfeitas.
Através de uma qualidade gráfica ainda hoje muito atual, as criações de Paulo Werneck estão agora entrando no concorrido mercado internacional de branded design, graças à iniciativa do seu neto, o designer Gaspar Saldanha. A tarefa de levar adiante o importante legado artístico é compartilhada com a sua irmã, Claudia Saldanha, curadora de renome internacional que cuida do acervo, pesquisa e exposições. A Gaspar coube a responsabilidade de restauros, reproduções, reedições e novas oportunidades comerciais.
A Etel Interiores, conhecida por seus móveis de desenho sofisticado e alta qualidade artesanal, foi a primeira companhia a assinar um projeto de licensiamento para reedições autorizadas, adicionando o nome do artista ao exclusivo grupo de top designers brasileiros que compõem a sua coleção. Os primeiros itens escolhidos foram elegantes mesas laterais, onde Werneck, além de aplicar seus famosos mosaicos ao tampo, também desenhou o restante da peça. Novas aplicações surgiram pelas mãos de Gaspar, tendo como tema a obra de seu ilustre avô. Assim nasceu o aparador PW, onde aplicou-se um mosaico cerâmico inspirado nos guaches de Werneck, e desenvolvido em colaboração com a designer Etel Carmona.
Para Lissa Carmona, sócia e diretora-executiva da Etel, a parceria com Paulo Werneck se encaixa de maneira natural à filosofia da companhia de contar a história do design brasileiro através da reedição de grandes autores do passado, assim como dos contemporâneos. Quando conversamos sobre Paulo Werneck, ela me disse: “Com ele trouxemos para a atualidade verdadeiras jóias do nosso design da década de 1940 que estavam quase esquecidas ou inacessíveis ao público. Passamos a reeditar as mesas originais com madeira certificada FSC e numeradas uma a uma”, completa.
Em seguida foi a vez da Kravet Inc., fabricante de tapetes de alto luxo com distribuição internacional. Para a marca, Gaspar fez uma cuidadosa seleção de vários padrões feitos por Werneck e os adapatou para criar a linha Paulo Werneck for Kravet. Mas não foram só os padrões originais que atraíram a companhia ao projeto. “Além do valor estético da obra, a história do Paulo Werneck e do Gaspar agregam valor ao produto e fazem o diferencial no marketing”, diz Scott Kravet, presidente da empresa que leva seu sobrenome.
Gaspar iniciou carreira na área do design têxtil, o que o faz ainda mais qualificado para a sensível tarefa de traduzir para vários outros meios a produção artística do avô. Recentemente, seus vários caminhos se confluíram quando Francisco Costa, nosso famoso designer a cargo da Calvin Klein, encomendou a Gaspar um estudo desses padrões para uma possível colaboração com a grife americana.
E o apelo dessa releitura dos murais de Werneck não se limita a fabricantes de móveis e objetos decorativos. Até o arquiteto Arthur Casas tirou partido para propor incluir reproduções de certos murais em alguns dos seus projetos. “O trabalho dele completa e nunca compete. Asseguro que isso é muito raro”, comenta Casas sobre como a estética de Paulo Werneck e a sua própria se complementam. “O Brasil e o mundo procuram de alguma forma reviver o modernismo da segunda metade do século passado. Esse é momento de resgate, de reconhecimento e aprofundamento. Inserir esse material em projetos atuais é conferir finalmente o papel de protagonista à sua obra”, afirma.
Fazer um nome sobressair num campo tão específico e disputado não é tarefa fácil, mas dois eventos recentes em Nova York parecem indicar que o trabalho árduo e determinado de Gaspar está rendendo frutos. Primeiro foi a inclusão de vários guaches na exposição Sensitive Geometries, dedicada a artistas brasileiros na Hauser & Wirth, uma das galerias mais importantes da cidade; e, em meados de fevereiro, Gaspar deu uma palestra para um grupo de arquitetos e designers na sede do American Institute of Architects.
"A obra de Werneck reflete a idéia de construção de um país com uma linguagem visual totalmente diferente daquela praticada na Europa ou Estados Unidos", diz a arquiteta, curadora e produtora cultural Denise Hochbaum, que organizou o evento. “Foi uma oportunidade especial de apresentar ao público norte-americano a amplitude dos trabalhos dele por uma ângulo íntimo e contado pela voz do seu neto Gaspar, que conviveu e aprendeu tanto com ele.”
Na palestra, Gaspar contou como seu avô era “além de grande artista e criador, também um homem de negócios com um compromisso de manter o seu ateliê em funcionamento”, sendo seletivo nas encomendas que aceitava, mas sem necessidade de impor suas ideias, exercendo um saudável e produtivo equilíbrio de sua integridade artística e produção comercial.