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Obsessão por colecionar

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As coleções podem servir não só de escolhas decorativas, como também para dizer muito sobre a personalidade de quem as cultiva. De etiquetas a azulejos, três diferentes personagens, cada qual com suas particularidades, exibem reuniões de objetos que lhes fazem a cabeça – e a casa.

  (Foto: Marcio del Nero)

Carrô Schamall

Coisas de mulher
“Coleção é como fetiche”, compara a diretora de arte paulistana Carrô Schamall, 34 anos, cujo nome é Caroline e o apelido, vindo de uma redução com pronúncia francesa. Ela não se considera colecionadora compulsiva, embora tenha 400 bolsas dos anos 1950 aos 1980, 300 joias e bijoux, 60 figuras de animais de louça e 40 abajures. “É preciso, de qualquer forma, ter paixão pelo tipo de objeto escolhido.” Em seu caso, são quase sempre femininos, fruto de lembranças das avós vaidosíssimas. Diferentemente dos ciosos de seus achados, que podem guardar tudo de maneira meio inalcançável, Carrô usa – e muito – os acessórios. Por vezes, chega a vendê-los, para comprar outros, no bar-loja Caos, na rua Augusta, em São Paulo. Ela é uma das proprietárias do endereço, onde se pode encontrar uma infinidade de artigos velhuscos, como alguns brinquedos de uma remota coleção sua. “Muito apego, deixei de ter faz tempo”, afirma. No entanto, logo confessa ter uma ponta de ciúme das louças em forma de bicho, que espalha por seu living. “O importante é que me divirto com tudo isso”, diz ela.

  (Foto: Marcio del Nero)

 

  (Foto: Marcio del Nero)

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  (Foto: Marcio del Nero)

Odires Mlászho

Falso colecionador?
Odires Mlászho não coleciona. Segundo ele, coleta. Despertado pelo valor estético de ferragens de bolsas, etiquetas de roupas ou antigas letraset, o artista plástico paranaense, 53 anos, vai juntando-as em casa, em São Paulo, sem ter noção exata do que fará com elas. São resultado de pesquisas de materiais a serem aplicados em seus trabalhos. “O principal momento das coleções, transitórias, é o processo de coletar”, diz ele, que começou a carreira aos 35 anos e produz “poesia visual”. Na série Sopa Nômade, 2010, por exemplo, trabalhou fotos com camadas dessas letras transferíveis, de um grande lote comprado em 2005, cortadas e quebradas, gerando novos signos sem um eixo semântico. Uma nova significação se dá ainda ao lidar com o avesso das inúmeras etiquetas de roupas e sua variedade de tipologias, cores, formas. Nas mais de mil ferragens, reunidas desde 2010, enxerga “vértebras”. É com um repertório relacionado sobretudo à linguagem que o artista apresenta, na Bienal de Arte de Veneza deste ano, uma síntese de sua trajetória. Nela, surgem também obras feitas a partir de livros técnicos, outra predileção. “Sou um falso colecionador”, brinca.

  (Foto: Marcio del Nero)

 

  (Foto: Marcio del Nero)

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  (Foto: Demian Jacob)

Luiz Fernando Grabowsky

Integração aos ambientes
A cozinha do apartamento do arquiteto carioca Luiz Fernando Grabowsky, 53 anos, permite observar diferentes marcos visuais do Rio de Janeiro. À parte a vista obtida das janelas do imóvel, em Ipanema, os cartões-postais da cidade estão mesmo estampados em 25 bandejas de faiança tchecas, do século 20, com alças metálicas, expostas em uma parede. “É uma coleção para a qual ainda busco peças”, comenta. Diferentemente de outra, praticamente encerrada, em que 550 azulejos europeus dos períodos art nouveau e art déco dispõem-se, em lambris, na sala de jantar. “Agora, só compro quando encontro algum modelo especial, embora não tenha mais onde guardar.” Ele, que integra à casa suas coleções, tem ainda objetos de René Lalique e Piero Fornasetti. E investe em pottery de época: são garrafas cerâmicas, dos anos 1920 e 1930, produzidas pela marca Aladin ou pelo artista Robj, ambos franceses, além de exemplares tchecos e alemães. Grabowsky considera nata sua personalidade acumulativa, manifestada mais fortemente a partir do final da adolescência. “Foi quando comprei meus dois primeiros azulejos.”

  (Foto: Demian Jacob)

 

  (Foto: Demian Jacob)

* Matéria publicada em Casa Vogue #334 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)


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