O terreno de 1.200 m² tem recorte difícil. Um triângulo com um dos vértices de ângulo tão agudo que um projeto arquitetônico convencional não caberia ali. Não bastasse essa particularidade, havia outra: dada a sua localização, se a edificação tivesse apenas dois andares, não haveria como observar a vista do Graciosa Country Club – condição sine qua non para a construção da casa, que deveria ter, também, espaços amplos para abrigar muitas obras de arte e peças de design brasileiro e internacional. Definidos esses pontos, o arquiteto curitibano Marcos Bertoldi, amigo de longa data do proprietário, o empresário Rodrigo Barrozo, pensou em uma construção vertical de linhas retas, traço típico de seu estilo. Como material de base, elegeu o concreto armado. “Minha pretensão foi resgatar as casas de concreto na cidade, que estiveram em alta nos anos 1970 e acabaram sumindo de Curitiba.
Eu queria trazer isso de volta e o Rodrigo apostou na ideia”, conta Bertoldi. O projeto, explica ele, também foi concebido para, posteriormente, poder se transformar em museu, fundação ou galeria de arte. “O Rodrigo é um grande colecionador e não vejo por que não pensar em uma planta que possa ter outro uso no futuro.” E foi assim que tomou forma a residência em que absolutamente tudo se volta à exaltação do belo – esteja ele presente no desenho dos móveis, no acervo do morador ou no projeto elaborado com a clara intenção de oferecer um legado arquitetônico para a capital paranaense.
A morada de 1.750 m² possui cinco andares. O térreo e o primeiro concentram área de serviço, hospedagem de funcionários, garagem e praça de acesso ao interior com duas entradas: uma para a casa e outra para a galeria de arte. Sim, há uma galeria no imóvel, destinada a acomodar telas e esculturas pertencentes a Barrozo. “A coleção cresceu muito, por isso resolvi erguer uma casa que abrigasse essas peças, para que eu pudesse observá-las como gosto”, revela o morador. Nesse ambiente, com pé-direito de 8 m, há obras de Daniel Senise, Marcelo Solá, Paolo Ridolfi e Carina Weidle, entre outros.
Mas o volume de desenhos, telas e esculturas é tão grande que muitos acabaram sendo expostos no amplo living do terceiro piso – o segundo pavimento é reservado aos quartos das filhas e às salas íntima das meninas e de almoço. O grande estar ocupa uma caixa de vidro com altura dupla, que atravessa transversalmente a estrutura de concreto da residência, pairando suspensa sobre o campo de golfe, de um lado, e voltando-se para o skyline da cidade, do outro.
Sobre o piso de tábuas de madeira ebanizada, uma profusão de assinaturas: Flávio de Carvalho, John Grass, Julia Krantz, Isamu Noguchi, Niemeyer, Le Corbusier e Paulo Mendes da Rocha. “Eu costumava comprar móveis clássicos internacionais, como os de Le Corbusier, e agora meu foco são os designers brasileiros contemporâneos, como a Julia e o Zanini de Zanine”, diz Barrozo, justificando as peças de jovens criadores espalhadas pelos ambientes e apreciadas pelos convidados nas diversas festas e recepções oferecidas por ele. “Adoro receber, gosto da casa sempre cheia. Tanto que no último andar, onde fica a piscina, há um lounge com mesas, cadeiras e espaço para DJ”, explica. Até mesmo nessa descontraída área existe lugar para as boas peças, como espreguiçadeiras desenhadas por Zanini com exclusividade para o projeto. Não há quem não se maravilhe com tantas surpresas visuais.
* Matéria publicada em Casa Vogue #344 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)