Em momento de ascensão do design nacional, talentos de todo o país com ideias similares formam grupos de discussão e produção em conjunto, movimentam o mercado e provam que a união faz a força. Veja quem são eles:
Feito à mão
O Rodrigo que fez. O nome da marca de Rodrigo Silveira diz tudo: a paixão pelo processo e pela matéria caminha junto com a criação. “Gosto de sentir o cheiro e o toque da madeira”, declara o designer, que estimulou os amigos Bruno Lima, Lucas Neves, Raphael Accardo e Leonardo Padilha a montar o grupo Feito à Mão para promover o valor de móveis construídos artesanalmente. “Tenho uma relação muito íntima com as peças. Necessito perceber o volume, o peso e a textura dos objetos para definir o que eu quero”, explica Raphael, que demora cerca de uma semana para produzir cada luminária Ovo – vencedora do segundo lugar do prêmio MCB de 2013. “Não adianta desenhar e mandar executar. Preciso sentir os problemas materialmente para criar as soluções”, diz Lucas Neves, que aprendeu a soldar sozinho e largou a arquitetura por sentir falta de pôr a mão na massa. E se o papel deles é preservar técnicas artesanais, o ensino faz-se essencial. Bruno Lima organiza cursos de marcenaria, costura e até construção de barcos em seu galpão na Barra Funda, em São Paulo, e desenvolveu, em parceria com Rodrigo, a poltrona Amarela, que pode ser fabricada com apenas meia placa de compensado. “A ideia é resgatar o ato de fazer. Por isso, pensamos em um móvel com material barato e disponibilizamoso desenho on-line”, explica Rodrigo, que, agora, luta para colocar o projeto em bibliotecas públicas. Nobre.
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(IN)VASÃO
O curador Waldick Jatobá foi quem colocou a pulga atrás da orelha. Os sete designers paulistanos aceitaram o desafio: um mês para criar e produzir uma peça que seria comercializada por até 2 mil reais no ateliê de Rodrigo Almeida, no Natal passado. A parceria deu certo e a vontade de “invadir” o mercado – dominado por lojas que colocam margens de lucro altíssimas inviabilizando a venda – os uniu. Nascia o grupo (IN)VASÃO, composto por Bruno Simões, Carol Gay, Rodrigo Almeida e as duplas Ana Neute e Rafael Chvaicer e Leo Capote e Marcelo Stefanovicz. “Meu papel é instigá-los para que pensem juntos em soluções, sem esquecer suas distintas identidades e estéticas”, explica Waldick, que defende a venda direta dos itens nos próprios estúdios para democratizar o design autoral. “Eles não eliminam a possibilidade de fornecer para lojas, mas espera-se romper o mercado de alguma maneira. O objetivo é, também, proporcionar a ‘vasão’ das ideias de cada um em encontros semanais”, completa. “Propor uma espécie de antropofagia dos objetos do cotidiano, transformando-os a partir das formas ou materiais essenciais”, define Rodrigo. Próxima provocação? Fazer peças ligadas ao hábito de comer, que serão expostas na Valcucine, em São Paulo. A turma promete.
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Movimento Y
Se a Geração Y cresceu em meio a avanços tecnológicos e múltiplas tarefas, os designers, estilistas e artistas plásticos do Movimento Y formam o grupo mais conectado e heterogêneo. Com integrantes em todo o Brasil, os encontros são mais raros – o que não os impede de ficar de olho em ações do mercado mundial que viram, agora, tendência em nosso país: as indústrias passam a valorizar o design assinado e convidam jovens talentos para desenvolver coleções especiais. “Marcamos reuniões pelo Skype para trocar ideias, contatos de fornecedores e de clientes para prospectar”, explica Hugo Sigaud, um dos líderes do grupo composto ainda por Bruno Faucz, Dennys Tormen, Fabiano Simão, Guilherme Sass, Guilherme Wentz, Gustavo Bittencourt, Gustavo Martini, Marcos Dagostin, Natasha Schlobach, Pedro Braga, Thiago Lucas, o grupo O Formigueiro e a dupla 80e8. E os resultados começam a aparecer: muitos já fecharam parcerias com Oppa, Stone Design, Formme e Decameron. “Fizemos um levantamento dos novos criadores e o Movimento Y apareceu com bastante força”, explica Anna Carolina Sucar, coordenadora de design da Oppa, que deve lançar cabideiros de Wentz neste semestre e peças de outros integrantes no final do ano.
* Matéria publicada em Casa Vogue #344 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)