O fim do segundo semestre verá a inauguração em Nova York daquele que vem sendo considerado o hotel-residência mais luxuoso construído no Ocidente nos últimos tempos, The Baccarat Hotel & Residences, coincidindo com as comemorações dos 250 anos da empresa-símbolo do luxo à francesa. O interior do prédio de 50 andares na 5ª avenida leva a assinatura do requisitadíssimo nova-iorquino Tony Ingrao. Dizer que ele é decorador seria reduzir sua gama de atividades, que também incluem paisagismo e arquitetura, e a Ingrao Gallery, de antiguidades. Comandada por ele e seus sócios, Randy Kemper e o arquiteto Bryan Brown, a Ingrao Inc. tem emprestado seu requinte às casas de celebridades, como a atriz Kim Catrall, e às mansões de magnatas da indústria norte-americana avessos à mídia. Nesta entrevista exclusiva para a Casa Vogue, Ingrao esbanja competência, charme e cultura.
Você uma vez disse: "Nem todos os nossos clientes são bilionários, a outra metade é milionária”. Qual o valor médio de um projeto de interiores assinado por Tony Ingrao?
É verdade, eu disse isso. Nossos projetos giram em torno de US$ 2 milhões a US$ 2,5 milhões.
The Baccarat Hotel & Residences é de um luxo tal como não se vê há tempos num hotel-residência. Qual o conceito?
É um empreendimento em harmonia com o legado de 250 anos da Baccarat, em um prédio novo, elegantíssimo, em estilo internacional do [escritório] Skidmore, Owings & Merrill. A sensação é a de estar em um ambiente muito especial, devido à atenção aos mínimos detalhes e à cuidadosa seleção de madeiras exóticas e pedras raras – mármore, basalto e granito. Esses elementos formam a base do meu projeto, em que a união do antigo e do novo, pontuado pela presença de lustres Baccarat, faz o luxo do The Residences.
Uma de suas marcas é a gama de estilos com os quais trabalha. Você cria The Baccarat Hotel & Residences, restaura e concebe o interior de um moinho do século 18 na Pensilvânia e decora uma cobertura em Nova York com espírito pop. Como consegue lidar com estilos tão variados?
Se meus projetos fossem um parecido com o outro, eu mergulharia no tédio total.
Seu estilo é bastante eclético. Existe algum que evite a todo custo?
O vitoriano, sem sombra de dúvida.
Como você analisa as atuais tendências em decoração?
Com a complexidade do dia a dia atual, as pessoas querem simplicidade com luxo, em espaços limpos e únicos, não importa se são em Cabo [San Lucas, no México], no Havaí, em Manhattan ou em Miami.
Qual foi o projeto que mais impulsionou o seu nome no mercado?
Foi a cobertura que fiz em Nova York para a colecionadora de arte Lisa Perry, onde incorporei o design contemporâneo pela primeira vez em um ambiente meu (veja a Casa Vogue de julho de 2011, ed. 311). Até então, meu nome estava associado ao clássico. Quando o apartamento foi publicado em um editorial na Vogue, mudou totalmente a percepção do meu trabalho.
Você costuma afirmar que não vende um look. Explique o que isso quer dizer.
Quer dizer que eu gosto de diversas linguagens, não me limito a um estilo só.
O que ainda não desenhou? Um iate?
Fiz o interior de um iate aos 25 anos com um heliponto muito louco. Não fiz nenhum restaurante até hoje. É uma ideia.
Seus trabalhos feitos na China, na Arábia Saudita e na Rússia o que são?
No momento, tenho uma residência em andamento na China. Morei uns meses, em 1986, em uma cidade às margens do rio Yangtzé – eu queria montar uma tecelagem de seda. Na Arábia Saudita, fiz um palácio para um jovem príncipe. Na Rússia, um apartamento e o interior de um banco.
Você se diz um francófilo. De onde vem essa sua paixão pela França?
Vivi no país de 1981 a 1995 e foi lá que compreendi que o nível de sofisticação de um espaço deve se assemelhar ao da alta-costura. Ainda frequento uma casa no sul da França, em Bonnieux, no Luberon, uma linda abadia do século 11. Inclusive, adoro ler em francês, meu livro de cabeceira é Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar.
Que conselho você daria a quem quer decorar um imóvel de 200 m²?
Faço uma interpretação específica, para um cliente específico, em um local específico. Meus projetos são site-specific, como na arte.
Então, fale-nos do apartamento que fez em Nova York para a atriz Kim Cattrall, a Samantha, de Sex and the City.
Kim é uma mulher linda que adora fantasia, por isso, mergulhei no glamour da época de ouro de Hollywood. Fiz o encontro dos anos 1950 com o luxo de uma verdadeira rainha.
* Matéria publicada em Casa Vogue #345 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).