Dentista de formação e colecionador de arte, o carioca Rodrigo Quadrado abandonou o consultório há pouco mais de um ano para se dedicar ao mundo do design – é um dos sócios da loja Arquivo Contemporâneo – e acabou decidindo construir uma morada que reunisse todas as suas paixões. “Eu desejava uma casa que tivesse uma pegada muito séria de arquitetura, que fosse minimalista, mas não fria”, conta ele. “Não queria uma que tivesse cara de showroom.”
Diante desse desafio, o arquiteto Alessandro Sartore fez algumas escolhas: primeiro, optou por materiais acolhedores, como madeira de demolição (peroba-do-campo) e paredes de pedra madeira; e, depois, configurou toda a casa ao redor da imensa mangueira que ocupava o centro do terreno de 800 m² no Itanhangá, aos pés da Pedra da Gávea, no Rio.
A árvore, batizada de Betânia pelo proprietário, por conta de seu aspecto majestoso, conquistou uma abertura de 3 m de diâmetro na laje que envolve seu tronco. Ela funciona como ponto focal de toda a distribuição das áreas de convivência – living, sala de jantar, cozinha e sala de TV – e ainda como uma conexão entre o corpo da residência e o jardim que circunda a construção. “A sensação é que estamos numa casa-varanda”, afirma Rodrigo.
A intervenção na laje, que se repete para acomodar uma árvore bem menor na garagem, acabou levando a uma segunda ousadia no projeto: a ausência de ar-condicionado. Sim, só os quartos possuem refrigeração. Graças à sombra da mangueira de mais de 20 m de altura sobre a construção e também à abertura que funciona como um canal de ventilação, a casa permanece fresquinha até mesmo sob temperaturas altíssimas. Para isso, basta manter abertas as paredes de vidro e a porta de entrada, todas pivotantes.
“Nosso primeiro teste foi o verão passado, quando a temperatura chegou a 45 graus – e não sentimos nenhuma falta do ar-condicionado”, garante o proprietário. Dentro e fora, todos os espaços se conectam, em especial o interior com o jardim e a raia de natação, localizada bem junto aos degraus da entrada principal, cuja porta nunca é fechada.
Esse convite permanente ao convívio, aliás, norteou a seleção de peças que Rodrigo e a mulher, Maria Fernanda, fizeram para mobiliar a residência. Com um catálogo de mais de mil itens à disposição, o casal focou nos móveis que aliassem conforto e beleza. Daí o mix de ícones como as poltronas Mole, de Sergio Rodrigues, e Alta, de Oscar e Anna Maria Niemeyer, com apostas mais atrevidas, como a chaise Cangalha, de Paulo Alves, e o carrinho-bar Totó, de Isay Weinfeld, além das cadeiras de balanço Astúrias, de Carlos Motta, na área externa.
Rodrigo não hesitou em espalhar por todas as paredes a sua coleção de gravuras. Estão lá decorando o lavabo, o quarto da bebê Maria Antônia e até mesmo a entrada de serviço obras de Nuno Ramos, Cildo Meireles, Beatriz Milhazes, Jorge Guinle, Poteiro e Joaquim Tenreiro, entre outros. Também onipresentes pela casa são os desenhos de Marcelo Solá, um artista goiano no qual Rodrigo está apostando. “O arquiteto projetou a parede do living inteira de vidro, mas eu implorei para ter um trecho ‘normal’. Senão, onde eu iria pendurar a tela do Marcelo Piá que eu adoro?”, comenta ele.
* Matéria publicada em Casa Vogue #346 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)