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Mundo de Sofia

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  (Foto: Bruno Simões)

Era uma tarde chuvosa na Lapa quando Sofia Borges nos recebeu com seu “café gourmet”, como ela define em tom de brincadeira. Na pilha de livros, Maria Martins, Cindy Sherman e Diane Arbus já apontam para algumas de suas paixões. Na mesa lateral uma réplica de um crânio de dinossauro encontrado na Argentina e, na de centro, ferramentas pré-históricas de dentista que ganhou de um amigo. Na cozinha, ela prepara o café orgulhosa do blend que inventou “Gosto de misturar os grãos brasileiros com estes colombianos que ganhei de presente de um amigo no México”. Para acompanhar? Biscoitos portugueses, outro mimo que recebeu.

  (Foto: Divulgação)

Se os objetos antigos no décor são referências diretas às suas fotos feitas em museus, os presentes refletem a simpatia e a cozinha internacional pode ser explicada pelo reconhecimento mundial e agenda concorrida.

  (Foto: Bruno Simões)

Formada pela USP ela não se define como fotógrafa e pretende voltar a trabalhar com esculturas e desenhos apesar de ter despontado no mundo das artes por explorar e questionar a fotografia de forma bastante autêntica. Apenas quatro anos após sua formatura, conquistou o posto de artista mais jovem da Bienal de São Paulo no ano passado e está com o calendário de 2013 lotado: já expôs no IMS, no Rio de Janeiro, e em galerias no México, Lisboa e Madrid. Este mês tem obras no Instituto Tomie Ohtake – que concorrem ao prêmio BES de fotografia. No segundo semestre estará representando o Brasil em Denver, na Bienal das Américas, e em mostra no Museu Astrup Fearnley, em Oslo, além de preparar exposição que dialogará com as pinturas de Rafael Carneiro em Paris.

  (Foto: Bruno Simões)

 

  (Foto: Bruno Simões)

 

  (Foto: Bruno Simões)

 

  (Foto: Bruno Simões)

Por falar em pintura, ela sempre volta aos seus gêneros e interroga a própria foto como linguagem: retrato, paisagem e natureza morta são trazidos à tona por carregarem uma série de referências a outras imagens e à própria história da arte.

”Acho interessante como cada linguagem aborda o mesmo assunto de forma diferente e, por isso, gosto de olhar os outros gêneros para entender os procedimentos”, explica. Ela comenta, por exemplo, como a ideia de tempo é trabalhada na literatura de forma completamente diferente da fotografia que traz consigo a ideia (ou carma?) do instante. “A pintura é feita de acordo com certas regras, mas é, de certa forma, livre do aparato tecnológico que interfere na fotografia. Existe uma câmera entre o artista e a imagem e isso muda tudo”, explica.

  (Foto: Divulgação)

 

  (Foto: Divulgação)

 

  (Foto: Divulgação)

Para questionar o registro do real atrelado à ideia de foto, ela registra imagens irreais como as dos dioramas presentes no Museu de História Natural de Nova York e Paris. “São pinturas que simulam uma paisagem tridimensional que, por sua vez, retrata um ambiente inexistente naquele lugar. Tanto forma quanto conteúdo evocam o falso, o que produz ilusão de uma realidade inexistente”, diz a curadora Luisa Duarte sobre o trabalho de Sofia. 

  (Foto: Divulgação)

 

  (Foto: Divulgação)

Ainda no mundo da museologia, procura não se aprender a temas, pois seu principal questionamento é a fotografia em si. Não foi à toa, portanto, que montou uma exposição cujo título era justamente Tema. “Queria narrar uma não narrativa desde pré-história [série exposta pela primeira vez em 2011]. Se tiver falando de alguma coisa, é sobre a própria fotografia”. Ela vem fugindo, assim, da exploração de um assunto senão sua própria ausência e o esvaziamento dos significados múltiplos de seus objetos retratados que são, em sua maioria, peças ou desenhos de museus. “Me encanta como os objetos ganham camadas incontáveis de significados quando estão em um museu. Não fotografo uma simples vaso de uma casa, coruja ou um coelho. São animais empalhados e objetos que estão ali por algum motivo e que ganham outro status quando naquele local”, explica. Fotografa-os propondo um esvaziamento de todos esses signos e uma transformação linguística.

   (Foto: Bruno Simões)

 

  


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