Falante, sorridente, carismático e visivelmente apaixonado pelo que faz. Quem olha o semblante bronzeado do chairman da Dedon, Bobby Dekeyser, não tem ideia dos altos e baixos pelos quais este belga já passou. A infância difícil, a decisão de largar a escola aos 15 anos, a vivência no exército, a carreira no futebol (atuou como goleiro do Bayern de Munique) e as lições dali extraídas, o surgimento de sua empresa e os vários percalços enfrentados antes de obter o sucesso são alguns dos temas explorados no livro Not for Sale!, em que, com o auxílio do jornalista Stefan Kruecken, ele conta sua história.
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Com fábricas na Alemanha e nas Filipinas, a empresa criada por Dekeyser há quase 25 anos hoje é referência mundial no setor de mobiliário outdoor high-end. O que poucos imaginam é que o êxito da Dedon não é resultado de técnicas mercadológicas, mas de “valores muito simples: determinação, perseverança, honestidade e parceria”, enumera Bobby, em entrevista à Casa Vogue. E arremata: “Para mim, ser um empreendedor significa criar plataformas onde outras pessoas possam mostrar seus talentos, habilidades e criatividade”.
Qual é a principal mensagem que sua biografia transmite?
Sinto que posso encorajar os jovens a acreditarem em seus sonhos – “se ele conseguiu, também sou capaz”.Mas claro que não posso ensinar às pessoas o que fazer, cada um precisa encontrar seu caminho. Daí, o título Not for Sale!, que quer dizer: seja fiel a você mesmo!
No livro, você conta que recebeu um importante conselho de Pelé. Como foi isso?
Aos 14 anos, ganhei uma competição cujo prêmio era ir ao Pelé Soccer Camp, em Nova York. Quando pude, perguntei a Pelé como eu poderia me tornar o melhor jogador de futebol do mundo. E ele respondeu: “Apenas vá atrás dos seus sonhos”. Aquilo mexeu comigo e decidi deixar a escola para me tornar um jogador profissional – joguei dos 16 aos 26, quando tive meu acidente [uma bolada violenta lhe causou uma séria fratura no rosto].
O que aconteceu a partir daí?
Decidi parar minha carreira de jogador, mas já sabia que tinha nascido para ser empreendedor. Então, resolvi abrir a Dedon, ainda no hospital. Antes de fazermos sucesso, tivemos muitos altos e baixos Mas nunca reclamei de nada. Tenho tantos exemplos de que coisas negativas podem se transformar em algo bom... Acho que as crises sempre nos fortalecem de alguma forma.
Falando nisso, a Dedon começou a trabalhar com designers renomados em um período de crise...
Isso mesmo. Em 2009, o mundo estava muito assustado, e nós acreditávamos que a Dedon, como uma empresa de lifestyle, não poderia ficar num canto, com medo. Por isso, decidimos ser criativos naquele momento: chamamos designers incríveis para trabalhar conosco, criamos o Tour du Monde, o resort Dedon Island, a campanha com Bruce Weber... Foi um risco que assumimos, e deu certo. Acreditamos que as pessoas não precisam só de mobiliário, mas também de atmosfera.
Como surgiu a ideia do Tour du Monde?
Estávamos sendo muito copiados, especialmente pelos chineses. Então, pensamos: “Vamos criar novas histórias a serem contadas” [fotografando o mobiliário Dedon em diferentes lugares e países]. O primeiro Tour durou oito meses, viajamos com uma equipe de 25 pessoas. Desde então, mantemos esse conceito, e a ideia é que seja para sempre!
E a Dedon Island?
Quando construímos a fábrica nas Filipinas, eu ia para lá todos os meses. Descobrimos um pequeno resort perto de Siargao, pertencente a um francês que iria voltar para seu país – e o compramos dele. Chamamos os designers Jean-Marie Massaud e Daniel Pouzet e nos mudamos para lá por 15 dias, para sentir o lugar. A partir daí, levamos três anos para transformar a estrutura e deixá-la com o clima Dedon. É bem diferente [dos resorts tradicionais], como se fosse uma casa – não há recepção. A intenção é que os hóspedes tenham liberdade para fazer o que quiserem: pegar a moto e ir ao mercado, cozinhar, ir pescar com os pescadores…
Conte um pouco sobre a fundação Dekeyser & Friends.
Tudo começou com o projeto Compostela, em Cebu, nas Filipinas, onde criamos, novamente com Pouzet e Massaud, moradia para 500 pessoas, numa primeira fase – a segunda acontecerá em breve. Lá também implantamos uma escola para empreendedores sociais, na qual podem participar jovens de todo o mundo. A cada ano, recebemos 20 escolhidos por dois meses.
E os novos projetos da Dedon? Vocês têm um approach bastante particular do design...
Sim, para nós não importa se o designer é famoso ou não, o crucial é a paixão e a visão da ideia e da filosofia. Nossa abordagem do design é bastante aberta, e nos tornamos conhecidos por peças icônicas. De início lançamos o Leaf, depois veio o Obelisk, Orbit, e, claro, Nestrest, Swingrest e outros. E agora estamos trabalhando com um amigo meu, Guy Laliberté [fundador do Cirque de Soleil]. Nossas equipes estão atuando juntas numa coleção e isso, para mim, é o paraíso. Vai levar algum tempo, porque não é um projeto fácil de desenvolver, mas é meu favorito, no momento.
* Matéria publicada em Casa Vogue #347 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)