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Complexo Matarazzo recebe expo de arte

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Imagem de um dos prédios históricos do antigo complexo hospitalar feita por Cristiano Mascaro (Foto: divulgação)

Os poemas de Oswald de Andrade, as canções de Seu Jorge, as estátuas de Iemanjá e o pão de queijo – aos poucos, o Brasil conquistou o francês Alexandre Allard. Tanto que o responsável pelo revival da Balmain e o do hotel Royal Monceau comprou os 27 mil m² do antigo complexo do Hospital Matarazzo, em São Paulo, para implantar, entre outras coisas, um hotel seis estrelas com torre de Jean Nouvel – a única construção nova prevista no terreno, cuja totalidade dos edifícios, tombados, será restaurada. Seu projeto-xodó, na verdade, é o centro cultural, que abrigará aulas, exposições e shows. Antes de as obras começarem, no entanto, Allard vai promover uma “invasão” por e para brasileiros. Made by... Feito por Brasileiros, sob curadoria de Marc Pottier, reunirá site-specifics de cerca de cem artistas nos pavilhões e jardins do hospital desativado para instigar um novo olhar sobre os prédios históricos. Entre os confirmados estão nomes estelares como Vik Muniz, Adriana Varejão e Beatriz Milhazes.

“Ser criativo é uma obrigação da raça humana”, anuncia o empresário, que acredita na inventividade (com boa dose de loucura) do brasileiro. “Só os loucos são loucos o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, e eles realmente o fazem. O que é mainstream não representa perigo para a ordem existente, mas também não leva ao progresso. A resistência a essa ordem é chamada de loucura, mas eu chamo de criatividade. São os criativos que decidem qual será a próxima cidade promissora do mundo. Foi assim na Paris dos anos 1920 e na Nova York dos anos 1960, e o Brasil tem esse potencial”, declara.

Frame do vídeo Quarta-feira de cinzas, de Rivane Neuenschwander e Cao Guimarães (Foto: divulgação)

Se o universo das artes vive uma antropofagia invertida mostras na Europa e nos EUA revelam interesse por criações não só do Brasil, mas da África, do Oriente Médio e da América Latina –, a exposição leva o movimento às últimas consequências: artistas estrangeiros convidados estão degustando nossa cultura para desenvolver suas obras. “A verdade é que, com o crescimento dos Brics e a evolução dos meios de comunicação, o mundo está pronto e curioso para ‘comer de tudo’”, afirma o curador francês. Assim, enquanto Jean-Michel Othoniel (queridinho de Karl Lagerfeld) estuda nossos colares de mandinga, Christoph Draeger pesquisa conceitos da macumba, Veronika Kellndorfer mergulha no legado de Lina Bo Bardi e Vincent Rosenblatt fotografa os bailes funk do Rio de Janeiro. Outros nomes internacionais de peso? Adel Abdessemed, Marilyn Minter e Xavier Veilhan.

Já a turma daqui tem o privilegio de herdar revoluções da Semana de Arte Moderna de 1922 e do trio Pape-Clark-Oiticica. O reflexo disso, de acordo com Pottier, está nas duas expertises dos brasileiros: arte pública e performances – pense em Divisor, de Lygia Pape, e na participação dos moradores do Morro da Mangueira nas obras de Hélio Oiticica. Ou ainda nas lendárias caminhadas de Artur Barrio e, das gerações mais novas, nos trabalhos de Paulo Nazareth e do Opavivará! – que distribuirá chás de ervas brasileiras durante a mostra. Na seleção nacional, nomes como Tunga, Nuno Ramos e Cildo Meireles figuram ao lado de jovens já consagrados, a exemplo de Cinthia Marcelle, Henrique Oliveira, Lucas Simões e Lia Chaia. Qual brasileiro mais lhe inspira? “A maneira como João Ubaldo Ribeiro retratava o país é sublime. Vocês têm uma habilidade antropofágica muito particular: engolem a cultura do mundo e a reinventam com cordialidade e alegria. É disso que precisamos”, responde Allard. De 9 de setembro a 12 de outubro.

Leia, abaixo, highlights da entrevista:

1.Você poderia nos contar um pouco sobre o seu projeto para o complexo do Hospital Matarazzo? A idéia é abrir um centro cultural primeiro e, depois, um hotel seis estrelas. Certo? Onde ficará a torre de Jean Nouvel?

Quero criar um marco turístico para São Paulo. O nosso objetivo é que aqueles edifícios históricos, que datam da grande era do café, tornam-se o símbolo da cidade. Nada será destruído. Todos serão restaurados para receber o hotel e um Centro de Criatividade – este é um projeto muito pessoal, que tem como objetivo provocar a criatividade em seus visitantes, fazer com que todos entendem que é normal ter sonhos e torná-los realidade. Ser criativo, aliás, é uma obrigação raça humana.

O centro será a sede das pessoas mais criativas do mundo, os heróis criativos, que divulgarão e ensinarão sobre seus trabalhos. Para celebrá-lo, vamos montar a exposição Made of...Feito por brasileiros. O projeto de Jean Nouvel, que será divulgado em novembro e está à beira da propriedade, substituindo um edifício de 1970, que nunca foi terminado.


2. Você poderia me contar um pouco mais sobre a sua relação com a arte?

Eu não sou um grande colecionador de arte, apenas um apaixonado por criatividade. Interessa-me saber o que acontece na mente de um artista, a sua capacidade de compreender os movimentos do mundo. Eles antecipam (como profetas) ou transformam mensagens de uma forma tão poderosa que conseguem abrir o portão das mudanças – isso é o que é realmente interessante para mim. Este processo acontece em moda, na música, no cinema, na pintura, na escultura, na dança ou na poesia...

Criatividade é a combinação de duas energias. A primeira é a imediata e espontânea, animal, instintiva, é de hipersensibilidade (que dá visão profética). Chamo esta energia de “o gênio”. A segunda é resultado de um trabalho desumanamente duro e busca incessante pela perfeição. Esta a que chamo de “o talento”, que é a habilidade de expressar “o gênio”. Quando as pessoas têm as duas energias, elas criam obras de arte – sou apaixonado por essas pessoas e pelo o que elas podem alcançar.

Com a Made by...Feito por brasileiros, quero reunir todos esses gênios para mostrar que o Brasil é o próximo centro criativo do mundo. Isso porque a nossa exposição vai reunir os melhores artistas brasileiros e alguns dos melhores do mundo e todos eles me falam que o Brasil é a terra da criatividade. Todos eles são profetas, eles sabem que o Brasil tem esse poder, esse futuro criativo incrível.


3. Me fale um pouco sobre a relação entre arte e loucura?

Loucura é o tema mais importante na história da Humanidade. Só os loucos são loucos o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, e eles realmente o fazem. O que é mainstream é aceito por todos, mas não representa o progresso. Qualquer progresso é um perigo para a ordem existente, uma ameaça para quem está estabelecido. A resistência a essa ordem estabelecida é chamada pelo mundo de loucura, eu chamo isso de criatividade!
Eu acho que o maior artista do Brasil é o Bernardo Paz. Inhotim é a arte do desempenho mais surpreendente na história deste país, pois tem todos os componentes da maior obra-prima: é um enorme sacrifício; é generoso; não faz qualquer sentido em termos financeiros; é tão megalomaníaco quanto bonito. Ele está mudando a mente das pessoas Minas. Inhotim tem uma energia tão forte que cria um movimento que acabará por produzir suas próprias soluções de sobrevivência... Resumindo, é louco.

Loucura é o tema mais importante na história da Humanidade. Só os loucos são loucos o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, e eles realmente o fazem. O que é mainstream é aceito por todos, mas não representa o progresso. Qualquer progresso é um perigo para a ordem existente, uma ameaça para quem está estabelecido. A resistência a essa ordem estabelecida é chamada pelo mundo de loucura, eu chamo isso de criatividade!

Eu acho que o maior artista do Brasil é o Bernardo Paz. Inhotim é a arte do desempenho mais surpreendente na história deste país, pois tem todos os componentes da maior obra-prima: é um enorme sacrifício; é generoso; não faz qualquer sentido em termos financeiros; é tão megalomaníaco quanto bonito. Ele está mudando a mente das pessoas Minas. Inhotim tem uma energia tão forte que cria um movimento que acabará por produzir suas próprias soluções de sobrevivência... Resumindo, é louco.

* Matéria publicada em Casa Vogue #348 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).

Pintura de Janaina Tschäpe (Foto: divulgação)

 

Fotografia do francês Vincent Rosenblatt no baile funk do Rio de Janeiro (Foto: divulgação)

 

Maiastra Ogum, de Reginaldo Pereira (Foto: divulgação)

 


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