Grandes empresários conseguem transformar herança cultural em riqueza, geram oportunidades no presente e possuem visão de futuro. Sabem estar no lugar certo na hora certa e ainda têm uma pitada de sorte. São tipos, via de regra, carismáticos, que, com suas atividades, melhoram o ambiente ao redor. É o caso do celebérrimo Ermenegildo Zegna, que, em 1910, assumiu a gestão da companhia de tecelagem da família e definiu as bases do que se tornaria uma das maiores referências na produção de tecidos de alta qualidade para confecções masculinas. Ermenegildo investiu em modernas máquinas inglesas e organizou um sistema de importação das melhores lãs australianas e sul-africanas, transformando uma modesta empresa familiar num império do luxo.
Tanta iniciativa surgiu em um terreno já então fértil: a região de Biella, no norte da Itália, sede das operações, é um dos berços mundiais do setor têxtil. Ermenegildo soube não só colher oportunidades no território onde nasceu, como, literalmente, semeou outras tantas. No início dos anos 1930, reflorestou as montanhas próximas ao lanifício de sua propriedade, plantando meio milhão de pinheiros, centenas de azaléias e hortênsias. Surgia o Oasi Zegna, uma área de proteção ambiental de 100 km² que, desde 1993, recebe turistas para hospedagem e passeios. Ele ainda abriu uma estrada de acesso ao local, conhecida como Panorâmica Zegna. A família, por sua vez, construiu ski lifts e uma série de condomínios.
Hoje, o complexo turístico de Bielmonte, dentro do Oasi Zegna, é frequentado por esquiadores no inverno e por amantes das trilhas no verão. “No meio disso tudo tem uma casa de família, onde passei os meus verões e aprendi a esquiar aos 5 anos”, lembra com carinho Andrea Zegna, neto de Ermenegildo e atual dono da residência. Arquiteto formado pelo Politécnico de Milão, ele cuidou pessoalmente da reforma ali realizada. “Mantive o sabor original do lugar, respeitando o estilo dos anos 1960, mas intervim bastante na estrutura, de acordo com as minhas exigências.” Assim, o décor mais rústico foi substituído por peças de design vintage e contemporâneo adquiridas em leilões e galerias ou desenhadas por ele próprio.
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Completam a composição algumas das obras de arte de sua coleção particular. “A paixão pela arte contemporânea teve início com os meus pais, eles nos levavam a tiracolo nas exposições”, conta Andrea. No ano de 2000, o arquiteto foi procurado para fazer parte do comitê organizador do Prêmio Biella de Gravura. Aproximou-se, então, de curadores, artistas e diretores de museus. “Comecei a apoiar o museu de arte contemporânea de Turim, viajava muito para ver exposições, lia revistas desse segmento. Enfim, alimentei minha curiosidade.”
Numa revisitação do exemplo do avô, Andrea fez da paixão um trabalho. E ainda conseguiu conjugar as suas atividades com o crescimento econômico e turístico da terra onde passou tantos momentos felizes. Além de conselheiro da Fundação Zegna, entidade filantrópica voltada à conservação do meio ambiente, ao bem-estar social e ao desenvolvimento cultural da comunidade local, ele é curador do All’Aperto, projeto de arte pública que patrocina obras permanentes de renomados artistas no Oasi Zegna e em seu entorno. As intervenções, iniciadas em 2007 com uma peça de Daniel Buren, são adicionadas todos os anos – amais recente, de maio, é uma criação de Dan Graham.
* Matéria publicada em Casa Vogue #347 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).