Começou ontem (26/8) em São Paulo a Expo Arquitetura Sustentável. O evento, que vai até sexta-feira (29/8), conta com uma exposição de produtos e uma conferência internacional. A série de palestras reuniu fabricantes, arquitetos, representantes do setor público, pesquisadores e empresários.
Não faltam motivos. Criar edifícios e cidades com menor impacto ambiental é urgente. Construções representam em média 40% do consumo de energia produzida nos países membros da International Energy Agency, organização internacional dedicada a auxiliar na produção de energia confiável, limpa e barata para os seus 29 países-membros, a maioria deles localizados no hemisfério norte.
"Cada um pode contribuir para o desenvolvimento sustentável no seu pequeno universo", afirmou a diretora de redação de Casa Vogue, Taissa Buescu, que presidiu a abertura do evento e a sessão Projetos Verdes. A série de palestras teve curadoria da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura e revelou projetos de todas as escalas.
"O papel da arquitetura que promove prédios verdes é crítico", afirmou o economista indiano Pavan Sukhdev, autor do livro Corporação 2020, e conhecido como "pai da economia verde". "É preciso construir tendo em mente todo o ciclo de vida do edifício - inclusive a desconstrução", afirmou.
O arquiteto Guillaume Sibaud, do escritório franco-brasileiro Triptyque, apresentou o projeto Harmonia 57. Localizada em uma rua que alaga com frequência, a casa tem uma relação diferente com esta realidade.
Lá, as paredes são cobertas por plantas epífetas, que crescem diretamente no concreto. A água penetra a terra abaixo do jardim, onde é filtrada e usada para regar as plantas. Os canos amarelos de PVC são deixados à mostra, emoldurando a construção. A proposta é simbólica: "As intervenções mais falam de sustentabilidade do que são sustentáveis", conta Sibaud.
O paisagista Benedito Abbud criticou a falta de vegetação nas grandes cidades brasileiras. "O planejamento urbano tende a se preocupar muito com veículos", afirma. "Parece que planejar significa dar transporte. E a gente se preocupa muito pouco com as pessoas e a natureza".
O profissional defendeu estratégias para trazer vegetação ao cotidiano urbano, como alargar as calçadas nas esquinas, criando espaços para plantar árvores. Medidas em escalas menores também trazem alívio aos desertos urbanos. Em São Paulo, a prefeitura permite transformar vagas de estacionamento em parklets, espaços com bancos e vasos de plantas. Outra opção seria instalar vegetação no topo dos edifícios, criando uma bela paisagem para quem os vê de andares mais altos.
Famoso por criar fábricas com milhares de metros quadrados, o arquiteto paulistano Roberto Loeb começou sua apresentação mostrando um projeto discreto do seu escritório, o Loeb Capote Arquitetos. A ponte giratória sobre o canal da represa do Guarapiranga, em São Paulo, dedica-se a pedestres e bicicletas - e não carros. Integrada à ciclovia e à estação de trem, faz uma costura no tecido urbano. "Para nós, arquitetos, a sustentabilidade começa com a questão humana, para que as construções sejam o mais acolhedoras possíveis", afirmou Loeb.
A preocupação com o acolhimento das pessoas também marca o Palácio Itália, prédio atualmente em construção para a Exposição Internacional de Milão, em 2015. Os arquitetos do Nemesi Studio criaram uma praça no interior, cercadas por formas irregulares e complexas. O formato do ambiente garante a ventilação - essencial no abafado verão italiano.
O exterior será delimitado por painéis que, unidos, lembram ramos de árvores. As peças são feitas de um cimento fotocatalítico, que, na presença da luz solar, captura e quebra moléculas de certos poluentes.
"A primeira forma de sustentabilidade é que as cidades sejam feitas de formas bonitas e não banais", afirmou Michele Molè, diretor do Nemesi Studio. "A banalidade mata a cultura", completou.
