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Uma Bienal democrática

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Bienal Democrática (Foto: Divulgação)

Se a última Bienal de São Paulo foi “estrelada”, a atual parece mais periférica. Se a última Bienal de São Paulo foi “cabeça”, a atual parece mais tátil. A minha impressão depois de uma primeira visita à Como (...) coisas que não existem é que o grande público vai assimilar melhor as obras presentes na Fundação Bienal até o dia 7 de dezembro. O olhar dos curadores “gringos” parece quase antropológico e os assuntos são tão palpáveis e presentes no “mundo real” que “nem parecem arte” – tenho certeza que alguém vai dizer! Religião, sexualidade, política e guerra... Todas as questões levantadas pelos artistas selecionados estão na nossa cara, nas primeiras páginas dos jornais, mas talvez seja preciso visitar a exposição para percebê-las e repensá-las. 

O maior destaque é, sem dúvidas, o vídeo Inferno, do israelense Yae Bartana, que filma a inauguração de um grande templo, destruição do mesmo e culto a seus escombros...a crítica é ao Templo de Salomão, em São Paulo, feito com pedras importadas de Israel. Assunto polêmico? Sim. Mas o filme é, sobretudo, belo (com um toque irônico muito bem-vindo).

No mesmo andar, não deixe de conferir a instalação Los incontados: un tríptico: três espaços articulados à maneira de um tríptico (dispositivo formal constituído por três partes unidas por dobradiças) para expor restos e rastros de festas – que, aqui, representam os dispositivos de “celebração” promovidos por traficantes na Colômbia. Note: O jogo de espelhos, projeções e imagens sobrepostas nos faz lembrar, ainda, de Public Space / Two Audiences, idealizado por Dan Graham nos anos 1970.

Procure ainda pelas belíssimas esculturas e fotografias do polonês Edward Krasinski. Delicadas, estas obras foram mostradas pela primeira vez nos anos 1960 e logo foram classificadas como surreais pelo caráter absurdo e tom lúdico. Cinquenta anos depois, os curadores da 31 Bienal de São Paulo as apresentam com outro discurso: “Krasinski sempre lutou contra os limites e controles, e procurou seu próprio caminho na arte, sem afastar-se do mundo”.

Mais adiante, não há como não parar na frente de Letterstothe Reader, do libanês Walid Raad – uma resposta ao surgimento recente de grandes templos para a arte árabe moderna e contemporânea - instalação para a qual o artista propõe algumas amostras de parede pre- fabricada para um novo Museu de Arte Árabe em São Paulo.

Entre os brasileiros, meu voto-destaque é para o pernambucano Gabriel Mascaro, que pesquisou imagens feitas durante as manifestações de 2013 para detectar uma maneira muito especifica de identificar os que protestavam: sob a ótica da polícia. “Eles cobrem os rostos, mas usam sapatos muito específicos que chamam a atenção...o que ajuda os policiais a identificá-los”, explica o artista da obra Não é sobre sapatos.

Com um quê de Beuys e Tunga, a indiana Sheela Gowda foi outro destaque desta primeira visita. Logo no primeiro andar da mostra, ela apresenta Those of Whom: um jogo com a elasticidade da borracha natural contra a rigidez do ferro reciclado de móveis e esquadrias.  Além das características físicas de ambos os materiais, Gowda também propõe uma discussão da história econômica e política do Brasil: ela aponta para a extração de látex da seringueira no séc. 19, a venda de sementes para o sul da Ásia nos anos 1900 e a comercialização da borracha nos anos 1960 – tudo gerando efeito desastrosos da floresta amazônica  e para a população indígena. Já as estruturas de metal, foram recolhidas em terrenos de demolição com o intuito de devolver o lixo urbano.

Tony Chakar, criador de Of the Other Worlds That Are onThis One, pertence a uma geração de artistas cujas preocupações mais latentes são a guerra e pós-guerra no Líbano e, no caso dele, como esse passado ressurge no presente para definir um “espaço-tempo catastrófico”. Vale gastar, então, algum tempo lendo os textos selecionados para acompanhar imagens de seu celular. 

Dois outros pontos altos do mesmo espaço: a instalação The Incidental Insurgents, dos palestinos Basel Abbas e Ruanne Abou-Rahme, que questionam (inevitavelmente) a crise politica contemporânea que vivenciam no dia a dia e indicam um novo imaginário social a surgir depois de um colapso, os trabalhos da austríaca Ines Doujak feitos em parceria com Jon Barker – críticos de realidades encontradas, até hoje, na produção têxtil.

Abaixo, veja algumas das obras que valem sua atenção!

Bienal Democrática (Foto: Divulgação)

 

Bienal Democrática (Foto: Divulgação)

 

Bienal Democrática (Foto: Divulgação)

 

Bienal Democrática (Foto: Divulgação)

 

Bienal Democrática (Foto: Divulgação)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

Bienal Democrática (Foto: Raphael Briest)

 

 


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