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Ventos de mudança no Masp

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Mudanças no Masp (Foto: Ali Karakas)

No centenário de Lin Bo Bardi, o novo diretor artístico do Masp tenta trazer de volta à vida algumas propostas da arquiteta para o museu. Responsável pelas atividades culturais, artísticas e educacionais do museu, Adriano Pedrosa espera expor novamente o acervo nos icônicos cavaletes de vidro e usar o vão livre para atividades da instituição.

Pedrosa, que toma posse em novembro, apresentou suas propostas para o museu hoje (9/10) a jornalistas de cultura, reunidos em um dos auditórios do espaço. A tônica é retomar algumas propostas de Lina, como o curador revelou a Casa Vogue em entrevista após a coletiva.

Não serão apenas os cavaletes que voltarão - provavelmente em meados do ano que vem, depois de 15 anos aposentados. Entre as ideias está revisitar mostras marcantes, como a GSP 70, que discutiu questões urbanas da Grande São Paulo. "Não se trata de reconstruir as exposições, mas de retomar algumas questões lançadas por elas", afirmou Pedrosa.

Outra preocupação é fazer dialogar as obras do múltiplo acervo. Para isso, Pedrosa pretende contratar curadores especializados nas áreas em que o museu tem maiores coleções - como arte europeia, internacional, asiática, africana e indígena, além de fotografia, arqueologia e moda. Os curadores devem desenvolver o trabalho em vínculos temporários com o Masp.

Curador independente com passagens por instituições como a Bienal de Arte de São Paulo e Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, Adriano Pedrosa foi escolhido pela nova diretoria do Masp, eleita em 17 de setembro último.

Na sua opinião, das propostas da Lina, o que deve voltar à tona e o que não faz sentido em 2015?
A gente está olhando para algumas propostas que mantêm esse caráter muito radical e experimental. Os cavaletes, por exemplo, com 46 anos, mantêm uma radicalidade, uma transversalidade incrível. Não é de modo algum um equipamento ortodoxo, clássico. Talvez seja o equipamento de museu mais radical para uma coleção desse tipo.

[Abre o laptop e mostra uma fotografia em que uma moça posa atrás dos cavaletes de vidro, com o rosto oculto por um retrato de mulher]. Esse tipo de interferência pode acontecer. De modo algum o cavalete pode ser considerado a maneira mais isenta, neutra, clássica de se mostrar um Modigliani, mas esse é o tipo de interferência que nos interessa trazer nesse momento da trajetória. Não se trata de dizer que os cavaletes ficarão para sempre. É uma necessidade da nossa geração, desse momento da história do museu, de São Paulo, do Brasil.

Mudanças no Masp (Foto: Divulgação)

E de onde vem essa necessidade?
Tem a ver com a radicalidade das propostas. Essa é uma maneira de se tratar essas obras-primas da história da arte universal. É interessante pensar em formas alternativas para o museu. O que pode ser um museu tropical, antropofágico? Um museu com transversalidade, mais subversivo e até descolonizado.

E também vale à pena aprender com isso. Eu vi esse tipo de exposição há 20 anos, mal lembro da experiência de passar por ele. Vamos agora ver o que isso nos ensina.

Você acha que trazer de volta algumas ideias da Lina pode ter efeito na produção dos artistas paulistanos?
Uma programação mais audaciosa e propositiva acaba tendo um impacto nas outras instituições, no público, na audiência e nos artistas. Ela aponta para diferentes caminhos. Por exemplo, Histórias Mestiças, que eu fiz no Instituto Tomie Ohtake, apontou para outras preocupações que estão na história, mas que artistas, comunidade e críticos acabaram se dando conta. A ideia é que o museu possa fazer isso também. O Masp quer ter uma programação audaciosa, pioneira, que esteja abrindo caminhos. Pensar em coisas novas, mesmo olhando para o que já aconteceu.

O que você está procurando nas pessoas que convida como curadores?
Procuro especialistas. Nenhum curador vai dar conta de todas as áreas que nós temos aqui. Identificamos os curadores adjuntos com essas áreas que me parecem importantes. É preciso ter arte indígena aqui na Avenida Paulista, no coração de São Paulo, no prédio da Lina Bo Bardi.

Não é que vamos ter sempre todos os curadores dessas áreas. Os curadores de arte europeia e asiática são as duas figuras principais que pensam a programação como um todo junto com o diretor artístico. E também o curador de fotografia. Podemos ter quatro ou cinco curadores adjuntos por dois anos, por exemplo.

A ideia é que a arte indigena possa conversar com arte moderna em duas ou três exposições; a moda possa conversar com arte asiática ou contemporânea. Estamos pensando a programação dessa maneira.

Para você como é o Masp ideal?
É esse que estamos construindo agora. É um processo de muitos anos, não é que em 2015 vamos ter tudo. É um Masp transformador, dinâmico, aberto para o futuro e olhando para o passado. Um museu que seja escola, laboratório, centro de pesquisa, disseminação, produção de novas obras, restauro e preservação.

É o Masp da Lina?
Acho que sim. Mas é de hoje, do século 21 também. Precisamos ir além.

Mudanças no Masp (Foto: Ali Karakas)

 


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