Um sofá escandinavo, uma poltrona art déco, amplas estampas florais à inglesa e um tapete com animal print . A combinação parece esdrúxula? Não para Laura Gonzalez. “A última coisa que desejo é ser colocada em uma caixa”, diz sem pestanejar a jovem designer francesa que, no frescor de seus 29 anos, tem a ousadia e o talento necessários para combinar elementos improváveis de forma provocativa e, ao mesmo tempo, elegante.
Formada em arquitetura pela École Nationale Supérieure d’Architecture Paris-Malaquais há apenas cinco anos, Laura já tem um currículo de fazer inveja a muitos veteranos do décor. Workaholic assumida, completou mais de 180 projetos desde o início de seu escritório, Pravda Arkitect, no final da faculdade.
O trabalho com interiores surgiu por acaso, com a realização de projetos a pedido dos amigos – o primeiro deles teve como pagamento um iPod! –, e o boca a boca foi ampliando sua clientela até chegarem os convites que lhe dariam visibilidade, como a ambientação do nightclub Bus Palladium e do restaurante Le Schmuck, na capital francesa. Desde então, a moça tem sido cada vez mais requisitada para conceber o décor de lojas, residências e, principalmente, bares e restaurantes: “É o que mais faço e adoro fazer!”.
Autodidata em decoração, Laura se valeu da curiosidade e do poder de observação como meios de aprendizado – e, claro, de boas referências. “As influências me ajudam, podem ser de artistas como Louise Bourgeois e Francesco Netti ou de designers de interiores, como Madeleine Castaing”, diz, referindo-se à icônica decoradora francesa morta em 1992, conhecida pelo uso magistral das cores fortes em combinações exóticas.
No caso de Laura, a mélange se faz presente nas cores, mas também nas estampas dos tecidos e dos papéis de parede, que ela tanto preza em seus projetos. Na decoração do Le Schmuck, por exemplo, foram empregadas mais de 30 padronagens diferentes. “É uma forma de aquecer a decoração”, afirma.
Também é típico de seu trabalho um certo perfume vintage – sem comprometer, diga-se, o caráter contemporâneo dos ambientes. O que começou como contingência acabou por se tornar uma de suas marcas: “No início, o vintage permitia que eu me expressasse com um orçamento restrito, e acabei incorporando ao meu estilo. Nos meus projetos atuais, entretanto, não uso peças antigas – busco reinterpretar as formas e materiais para criar uma nova versão”.
Atualmente, junto à sua equipe – composta por apenas quatro pessoas –, Laura desenvolve 13 projetos, entre bares, restaurantes e residências, além de 22 apartamentos num grande empreendimento no centro de Paris. Um exercício e tanto, como ela própria revela, com humor: “Um dia no estúdio é como um jogo de pingue-pongue: nós nunca paramos, é diversão garantida”. Somando seu talento à paixão pelo que faz, Laura Gonzalez tem os requisitos para se tornar, muito em breve, um dos grandes nomes do décor francês.
* Matéria publicada em Casa Vogue #335 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)