Quem passa pela frente da Casa van Schijndel, em Utrecht, na Holanda, não desconfia que ali há um ícone arquitetônico. Instalada em uma praça medieval, a morada de linhas modernistas esconde-se por trás da fachada de um prédio de apartamentos. De dentro da construção, também não dá para imaginar o burburinho ao redor. Apenas o badalar dos sinos da catedral lembra que o visitante está no centro.
A casa foi criada pelo arquiteto Mart van Schijndel para viver com sua esposa, Natascha Drabbe. O lar centra-se na sala de estar. Cercado por esquadrias de vidro dos dois lados, o cômodo tem planta triangular, poucos móveis e piso frio - características que lhe dão um marcante ar moderno. O pé-direito diminui gradativamente, até formar o piso superior, onde ficam ambos os quartos.
Dois pátios com jardins também angulosos criam áreas verdes a leste e oeste no terreno da morada. Portas que se abrem para fora conectam as aberturas à sala de estar, cozinha, biblioteca e entrada principal. O formato permite um contato com o exterior durante as atividades prazerosas desenvolvidas nesses ambientes.
A disposição dos cômodos garante a máxima entrada de luz, matéria-prima que o arquiteto manipula com maestria. À primeira vista, a casa parece ser branca. Isso por que os tons pastel que a colorem são bastante claros. Só se tornam visíveis nos pontos onde convergem.
O ângulo de incidência do sol determinou a cor das superfícies. Como van Schijndel queria sentir a energia suave da manhã, as paredes onde brilham os raios matutinos foram pintadas de amarelo suave. A luz da tarde é refletida por um tom frio de lavanda. O poente brilha em paredes neutras - branco-acinzentadas ou esverdeadas. Todas as superfícies onde o astro-rei não recai foram pintadas de cores quentes.
Já os forros receberam um tom avermelhado, uma referência ao brilho do pôr do sol nas tardes quentes do verão europeu. "Recordar-se traz sempre uma boa sensação, então, se fosse possível criar uma casa com essa cor no teto, sempre haveria uma referência, uma lembrança desse dia gostoso", explica o arquiteto.
A ousada construção ganhou o prestigioso prêmio municipal Rietveld em 1995, e passou a ser protegida como monumento da cidade em 1999 - o mais jovem de Utrecht. No mesmo ano van Schijndel faleceu, e hoje sua viúva conduz visitas à residência onde moraram juntos.
"A maneira como a luz algumas vezes entra pelas vidraças em frente aos pátios é como se alguém no céu estivesse ligando um interruptor", explica Natascha, que é historiadora especializada em arquitetura. Ela editou um livro sobre a casa e abriu a Fundação Mart van Schijndel para valorizar o legado do marido.