Atravessando as paisagens da Escócia, com ovelhas pastando e um silêncio que só é entrecortado pelo vento, é difícil imaginar a ligação entre o lugar e alguns dos endereços mais high-profile do planeta. Mas é de fábricas instaladas em vilarejos remotos e pitorescos do país que saem tecidos que enfeitam da Casa Branca aos palácios da realeza britânica, passando por hotéis de luxo e os refúgios de celebridades como George Clooney, Steven Spielberg e Tilda Swinton.
As tecelagens escocesas, que, ao longo de 400 anos, consolidaram a fama de fabricar os melhores produtos de lã e cashmere do mundo, hoje apostam alto no universo do décor. Roupas, cachecóis e cortes para alfaiataria continuam surgindo aconchegantes e impecáveis dos teares, agora acompanhados por mantas, tapetes e tecidos para estofados e cortinas produzidos com o mesmo rigor técnico.
Algumas veteranas estão dando seus primeiros passos no setor de interiores. A Begg Scotland e a Johnstons of Elgin são tradicionais fornecedoras para grifes como Chanel, Burberry, Hermès e LouisVuitton. Foram motivadas a se arriscar na nova seara pelo desejo de tornar suas próprias marcas mais conhecidas, como conta Jenny Stewart, gerente de marketing da Johnstons. Ambas as empresas hoje criam duas coleções por ano que incluem cobertores, capas de almofadas e tecidos com padrões que atualizamos típicos tartans e tweeds escoceses.
Já os nomes Calzeat, MYB e Holland & Sherry têm uma produção que há décadas é revendida em lojas como Ralph Lauren Home, Harrods e Liberty e reverenciada por decoradores dos Estados Unidos e da Europa. Com a crise que atingiu esses mercados, elas partiram em busca dos consumidores ávidos por luxo de lugares como Rússia, China, Emirados Árabes, África do Sul e, claro, o Brasil. “Estamos investindo em conhecer melhor esses clientes e desenvolver produtos específicos para eles”, diz Bob Galbraith, diretor de vendas da Calzeat, exibindo uma recém-lançada coleção de cetins de lã e cashmere levíssimos e translúcidos que, garante, são perfeitos para países de clima quente.
Graças a uma nova geração de designers vindos das melhores faculdades de moda e design da Europa, essas tecelagens hoje conseguem combinar tendências internacionais com a rica herança de seus acervos centenários. Com essa bagagem, muitas até se aventuram – com sucesso – fora do universo dos tecidos, criando papéis de parede, telas para luminárias, painéis e toalhas de mesa. “A busca constante pela qualidade e inovação é o que define nossa indústria”, resume Alistair McAuley, um dos designers por trás do irreverente estúdio Timorous Beasties.