Sempre que o trânsito, a poluição, a violência e a correria do cotidiano passavam dos limites, Tininha Kós fazia um break na sua vida paulistana, indo passar uns dias na casa dos pais, no Rio de Janeiro. Carioca do Leblon, ela se mudou para São Paulo aos 25 anos. Foi onde se casou e construiu uma bem-sucedida carreira empresarial. Mas a vontade de um dia voltar nunca saiu de sua wish list. O problema era conciliar o trabalho – que ia muito bem, obrigado – e também o impacto que a mudança teria na vida de seus três filhos: duas meninas, Júlia e Olívia, do primeiro casamento, e Francisco, de seu segundo matrimônio, com o economista Dado Salem. “Minha vida em São Paulo era um turbilhão. Eu trabalhava demais, inclusive noites e fins de semana, e não estava feliz com aquilo”, relembra.
A volta começou a tomar forma quando seus pais anunciaram que iam vender a casa no condomínio Jardim Pernambuco, seu refúgio no Rio. Ter uma morada para chamar de sua tornou-se urgente. Uma amiga avisou que havia uma à venda na vila onde vivia, no bairro do Horto. Apesar de menor do que sua casa em São Paulo, a localização – quase em frente ao Jardim Botânico e pertíssimo da Floresta da Tijuca e da Lagoa Rodrigo de Freitas – e o jeito de casa de sítio em pleno Rio foram fatores decisivos na hora de fechar negócio.
A necessária reforma acabou durando dois anos. O imóvel, erguido em 1889, é tombado pelo Patrimônio Histórico. Com a ajuda do irmão, o arquiteto José Kós, e da amiga e vizinha Fernanda Lima, decoradora, Tininha restaurou a fachada original e aproveitou para usar madeira de demolição em todos os espaços. “Tive de seguir algumas regras, como pintar a fachada em tons pastel. Mas no interior tive mais liberdade”, conta. Com uma área construída de 220 m², Tininha optou por manter a linha rústica na escolha de materiais – daí os pisos de ladrilho hidráulico e de tijolo artesanal e o cimento queimado para as bancadas da cozinha e dos banheiros. “Eu queria uma casa fácil de usar e de manter”, comenta. A busca pelo despojamento fica clara na sala principal. “Gosto desse ambiente único, onde eu, Dado e Francisco interagimos”, afirma. “Adoro deixar tudo aberto, ver a rua, saber quem está chegando... Aqui é tão calmo que até parece que estou no interior.” O décor, por sua vez, aposta na mistura de peças herdadas de família ou compradas em antiquários, alguns itens de design e uma invejável seleção de fotografias e obras de arte.
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Acima de tudo, a mudança para o Rio significou a adoção de um novo estilo de vida. Tininha vendeu a empresa que tinha e aceitou a decisão das filhas mais velhas de irem morar com o pai. Mas, no cômputo geral, saiu ganhando. “Agora eu durmo bem, me alimento de maneira saudável e faço as coisas num ritmo normal”, garante. Entre os pequenos prazeres que a rotina carioca lhe trouxe está acompanhar o filho menor, Francisco, à escola. Os dois vão a pé, por uma trilha que cruza o Jardim Botânico, ou de bicicleta pela ciclovia, o que não demora mais do que dez minutos. “A gente vai batendo papo... Isso tem preço?”. Dado ainda fica em São Paulo de segunda a quarta-feira, mas quando chega em casa, na quinta, é como se estivesse de férias. “Para o Dado, morar no Horto é como uma criança viver na Disneylândia. Nossa qualidade de vida aqui não tem preço”, comemora.
* Matéria publicada em Casa Vogue #350 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)