Apesar de a superfície do planeta Terra ser constituída por 70% de água, ela é um recurso escasso que tende a se esgotar no futuro. Só 3% da água do mundo é potável e, dessa fração, 98% está em aquíferos, ou seja, é subterrânea. Do restante disponível, a irrigação consome impressionantes 73%, a indústria 21% e apenas 6% destina-se ao consumo doméstico.
Vivemos em um país privilegiado no que diz respeito à água, já que possuimos uma das maiores reservas de água doce do planeta - apesar desse recurso não ser bem distribuído por nosso território, e tampouco tão acessível quanto imaginamos.
Na Região Metropolitana de São Paulo, seu principal fornecedor de água à população, o Sistema Cantareira, teve uma sequência de quedas no nível de suas represas que não são culpa de São Pedro. Segundo o pesquisador Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp, a Sabesp chega a perder quase 40% da sua produção com falhas na distribuição. O professor Júlio Cerqueira César Neto afirma: “se fosse uma empresa particular, estaria falida com um sistema como esse”. Maior empresa fornecedora de água do mundo, ao considerar-se que opera em único país, a Sabesp possuía situação invejável até os anos 1990. Foi a falta de investimento em infraestrutura e o descuido com a poluição e desmatamentos de mananciais, somados ao desperdício crônico, que nos trouxeram à maior crise de falta d’água da história. E agora, a questão é: existe solução?
Estudos apontam a utilização do Aquífero Guarani, o segundo maior do mundo, com parte da sua reserva no subsolo do centro-sudoeste do Brasil. Essa água poderia ser captada de forma econonômica na região de Campinas e ser bombeada para ajudar o Sistema Cantareira.
Seria uma estratégia de longo prazo, juntamente com a despoluição efetiva dos rios Pinheiros e Tietê para aproveitamento de suas águas, a transposição entre alguns rios, redução de vazamentos, reuso, tratamento de esgoto, replantio de mananciais e, sobretudo, políticas de incentivo que ajudassem a mudar os hábitos para conscientizar a população e a indústria.
Cabe lembrar, que o cenário para os próximos anos não é dos mais otimistas. Se não é possível ainda prever como será a pluviometria do verão nas nascentes do Sistema Cantareira, estamos diante de estimativas entre 5 e 10 anos para recuperar os reservatórios. No curto prazo, se não chover o suficiente, o abastecimento pode ficar ainda mais comprometido do que já está.
Uma iniciativa interessante é a do SOS Mata Atlântica, que lança esse mês edital do programa Clickarvore para doação de 1 milhão de mudas de espécies nativas para restaurar a Bacia da Cantareira. Esse plantio possibilitará a conservação de 4 milhões de litros de água por ano.
Até o começo do ano que vem, um projeto de lei com um modelo de incentivo para estimular o reuso de água nos condomínios paulistanos está sendo estudado pela prefeitura, e deve ser encaminhado a Câmara Municipal para ser incorporado à nova Lei de Zoneamento.
Os empreendimentos que instalarem os sistemas de reuso serão beneficiados, tendo descontos em impostos e no valor pago por metro construído ou uma permissão para construir mais do que o liberado no local.
As águas do chuveiro, pia e maquina de lavar, ao invés de serem destinadas diretamente para o esgoto, serão tratadas e reutilizadas nos vaso sanitários, lavanderias, e torneiras de jardim. Esses usos correspondem a cerca de 30% do consumo de um edifício.
De qualquer forma, essas medidas que podem vir a ser implementadas não mudam o cenário catastrófico que estamos vivenciando. As imagens dos reservatórios secos testemunham a constante falta de planejamento e desperdício, para revertê-la será preciso economia e estratégias de longo prazo e não dependem apenas da boa vontade de São Pedro.