Regida pela arte, a proprietária desta casa desejava uma morada onde pudesse pintar e criar. “Queria um lugar agradável e de fácil acesso”, disse a artista plástica Ana Durães ao arquiteto Carlos Salles ao encomendar o projeto arquitetônico e o décor de sua casa-ateliê, no Vale das Videiras, em Petrópolis (RJ).
O que parecia ser contraditório a princípio se tornou o viés do novo lar. “Ao mesmo tempo em que deveria ser uma casa de campo, deveria também ser um local de trabalho. Sem esquecer, é claro, da integração com a natureza de seu entorno”, diz Salles. E para equilibrar as duas vertentes, ele investiu no conceito de modernidade nas linhas estruturais: a casa tem o formato de um “S” alongado, acompanhando a curva de nível do local. E para complementar, uma varanda frontal segue toda a extensão e o desenho sinuoso da construção de 218 m².
Em meio ao verde da mata, desponta o concreto aparente com veios de madeira (foram usadas tábuas de pinho para bater a laje, deixadas propositalmente à mostra), que dá o tom de modernidade ao loft. Com pé-direito generoso e variável (2,40 m no lavabo; 5,60 m no ateliê; e 7,80 m na torre da caixa d’água), foi possível apostar em grandes vãos com esquadrias de alumínio e panos de vidro na parte frontal. Outro recurso foi o uso de uma viga de ferro em treliça para apoiar a laje com uma claraboia de 2 x 2 m, o que rendeu uma incidência de luz abundante, outro desejo da artista.
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No interior, destaque para uma escadaria em formato de leque que se mostra funcional ao criar um vão onde é possível guardar objetos. Outro ponto de versatilidade do projeto é a lareira, que tanto pode ser usada por quem está na área do ateliê quanto por quem está na sala de jantar ou na cozinha, cuja comunicação com a varanda lateral se dá por uma janela quadriculada e um balcão de concreto. Nesta varanda, inclusive, há uma parede pintada com tinta quadro-negro, formando um painel para se escrever recados ou receitas, que dá apoio para quem usa o fogão à lenha. Focado nas atividades profissionais da moradora, Salles concebeu um grande tanque para que a artista pudesse lavar seus pinceis de forma prática.
No segundo piso, a suíte recebeu uma parede que faz o papel de divisória entre o lavabo duplo e a base da cabeceira da cama – foram usadas as tábuas de pinho empregadas na construção e execução da laje. Separado deste bloco está o banheiro, com hidromassagem e ducha com vista para a varanda privativa com um jardim suspenso. No piso, a madeira de demolição e as paredes com pastilhas de vidro verde-água dialogam com o visual das montanhas.
No décor, as cores, os matérias, a criatividade e a arte passeiam pelos ambientes. Como base, o piso de peroba rosa de demolição, adquirido de uma fazenda mineira, foi aplicado ao natural com réguas largas rejuntadas e enceradas. Sobre ele, o mobiliário confortável se mescla às telas, pinceis e tintas. “A casa tinha de ser uma moradia que refletisse a nossa alma, nosso gosto. Cada objeto, tapete ou livro tem um pouco de nossas vidas. São recordações de viagens ou achados especiais”, orgulha-se Ana de seu canto abraçado pela natureza, onde mora com o marido e recebe rotineiramente seus familiares que residem em casas construídas na mesma propriedade.