Nova York pode ser a cidade com a maior quantidade de arranha-céus do planeta, mas quando se trata de alcançar o topo de qualquer um deles, só há um caminho: o elevador (boa sorte a quem considera as escadas uma opção viável para ascender cerca de 300 metros em média). Isso porque helicópteros – a alternativa óbvia para as camadas mais altas da pirâmide social que, a propósito, abundam por aqui – são proibidos de pousar sobre qualquer prédio em Manhattan desde 1977, depois de um acidente com uma dessas aeronaves ocorrido na cobertura do edifício Pan Am (hoje MetLife) naquele ano.
É claro que este veto não está entre as razões para que se construa cada vez mais alto na cidade – a obsessão nova-iorquina com alturas tem mais de 110 anos – mas é impossível não se imaginar a bordo de um helicóptero quando se avista a ilha inteira (além do Bronx, do Queens, do Brooklyn, Staten Island, New Jersey e do Oceano Atlântico) a partir do 94º andar do 432 Park Avenue, onde Casa Vogue e outros poucos veículos internacionais estiveram na semana passada, menos de um mês depois de a construção ter atingido a sua altura máxima: 425,5 metros, distribuídos por 96 andares. O número faz da obra o edifício residencial mais alto do Hemisfério Ocidental, como não se cansam de alardear as equipes de marketing da Macklowe Properties e do CIM Group, os responsáveis pelo empreendimento. Não fossem as antenas do novo One World Trade Center e do Empire State contabilizadas na altura oficial dos prédios, o 432 Park Avenue seria o edifício mais alto da cidade agora. Sua penthouse, na verdade, está acima do rooftop destes dois gigantes.
“Não estava nos planos ser o mais alto”, afirma Harry Macklowe, idealizador do edifício e praticamente uma lenda do mercado imobiliário local. Segundo ele, o a torre começou a partir da planta dos andares, um grande quadrado aberto interrompido apenas no centro por um quadrado menor, onde fica todo o maquinário e demais elementos estruturais. “Mas estamos em Nova York, certo? Não há espaço, a única direção possível aqui é para cima”, explica o uruguaio radicado na cidade Rafael Viñoly, autor do projeto e arquiteto de outras célebres construções mundo afora, como o Fórum Internacional de Tóquio e a reformulação do Museu de Arte de Cleveland, entre outros. “Não dava para ter ido mais alto do que fomos com o 432 Park Avenue”, conta ele.
O impacto do novo prédio já se faz sentir por toda Nova York – sua esbelta e retilínea silhueta é avistável de muitos pontos da cidade, o que não tem agradado a todos os nova-iorquinos, ciosos de que o skyline da megalópole torne-se, aos poucos, irreconhecível, com o apequenamento de ícones como o Chrysler e o próprio Empire State. De acordo com Viñoly, só foi possível plantar uma torre dessa altura na cidade graças ao estágio avançado em que se encontram hoje as tecnologias de construção. E que, portanto, é questão de tempo até que outros gigantes da mesmas magnitude apareçam por ali.
Uma das grandes ideias do arquiteto foi deixar dois andares vazios – e completamente abertos – a cada 12 pisos construídos. Com isso, o edifício se mantém permeável à passagem do vento em diferentes alturas, o que alivia a pressão que o ar exerce sobre as fachadas e garante boa parte de sua estabilidade.
Esteticamente, há nos traços da torre uma saudável obsessão com o quadrado. A planta dos apartamentos, suposta origem de tudo, possui esse formato. O mesmo acontece com as janelas, enormes aberturas quadradas de 3 x 3 m. Segundo Macklowe, a inspiração para o edifício de traços modernos tem origem clássica: os quadrados que compõem o piso do Panteão romano e também adornam a sua cúpula central. Já Viñoly prefere falar nos efeitos obtidos com o uso da forma. “Se você olhar bem, por causa das proporções que escolhemos e da forma como os quadrados se encaixam, o prédio nem parece tão alto”, diz. “Para mim, sua principal qualidade é ser calmo – ele transmite tranquilidade”. Macklowe concorda, e revela um conselho recebido de seu amigo Renzo Piano, numa conversa informal durante a fase de projeto: “se você se mantém fiel à forma, não dá para estragar um quadrado”.
Se arquitetonicamente o único caminho é para cima, o mesmo se aplica às cifras que envolvem o edifício. O mais barato dos 104 apartamentos do 432 Park Avenue sai por US$ 16,95 milhões. As penthouses no topo, todas já vendidas, foram arrematadas a US$ 82,5 milhões cada uma. Quem compra (ou ainda pretende comprar) uma unidade, de acordo com Macklowe, é um tipo muito, mas muito exclusivo de cliente. Traçando um perfil genérico, ele diz se tratarem de homens, com no mínimo 55 anos, proprietários de iates, jatos, coleções de arte, outros três ou quatro imóveis do mesmo padrão espalhados pelo mundo e que, aparentemente, se conhecem entre si, ou ao menos em parte. O clube, Macklowe faz questão de ressaltar, não é formado por novos ricos, mas sim pelo “old money” americano – a maioria oriundo da própria cidade de Nova York (quase 70%) e também da Califórnia. Apenas cerca de um quarto dos compradores é de fora, de lugares como Rússia, China, países árabes e o Brasil. Richard Wallgreen, vice-presidente executivo de vendas da Macklowe Properties, assegura que são três os proprietários brasileiros, e há um possível quarto a caminho, mas não revela, por nada, a identidade de nenhum.
O que se sabe é que todos eles poderão se mudar a partir de setembro de 2015, quando o prédio será entregue aos moradores. Até lá, muito vai se especular ainda a respeito de suas fortunas ou sobre o que leva alguém a querer viver literalmente acima das nuvens. De algumas delas, pelo menos.
*O jornalista viajou a convite da Macklowe Properties e do CIM Group