Acaba de ser lançado o guia Triângulo de São Paulo – Um Guia para se Perder no Centro, de Fernando Ostlund e Rafael Pavan, distribuído gratuitamente pela associação Viva o Centro. Com ampla abordagem, o guia mapeia a região que deu origem à cidade de São Paulo, apresentando 31 pontos de interesse da área entre a Praça da Sé e os Largos de São Bento e São Francisco. São prédios, monumentos, centros culturais, espaços históricos, cafés e empórios que não só testemunham a passagem do tempo como também demonstram a riqueza de experiências que temos à mão e muitas vezes ignoramos.
O guia vem em boa hora, quando várias iniciativas apontam para o resgate desse centro ainda deserto fora do horário comercial. Para além do Teatro e do Mercado Municipais, da Pinacoteca do Estado e da Estação da Luz, novos espaços trazem vida funcional e urbana integradas ao contexto existente, como a Praça das Artes. A intervenção delicada do Brasil Arquitetura demonstra que é possível inserir-se em meio ao caos e estruturar uma região tirando partindo das tensões que a compõem. É seguramente o projeto mais importante realizado no centro nos últimos anos e aponta soluções de resgate do espaço público para o resto da cidade.
Alguns desses 31 pontos do guia tornam-se arqueologia do tempo recente, com redescobertas, a exemplo do ilustre desconhecido Edifício Trângulo, de Oscar Niemeyer, que conta com mosaicos de Cândido Portinari, ou então o imponente Arco do Patriota, de Paulo Mendes da Rocha. Entretanto, parece que não são só os leitores têm sido estimulados a perderem-se no centro...
Um dos grandes projetos que parece ter sido relegado às gavetas do governo é o Complexo Cultural da Luz dos suiços Herzog e de Meuron. Ele comporia o maior polo cultural da América Latina, do qual fariam parte a Sala São Paulo, a Universidade Livre de Música, a Pinacoteca do Estado, a Estação Júlio Prestes, o Parque da Luz, o Museu da Língua Portuguesa e o Museu de Arte Sacra.
A lista é enorme, assim como a tragédia da paralisia naquela área. São muitas as controvérsias sobre o efeito “Bilbao” ou “Tate Modern” que traria, a começar pelo modo como foram elaborados o projeto e contratados os arquitetos, entretanto, é inegável que sua construção redinamizaria uma das áreas mais complexas da região central de São Paulo, em plena Cracolândia. Apesar da desapropriação de 205 imóveis em 3 quadras, a esdrúxula previsão de conclusão das obras para o final de 2014 torna ainda mais necessário um passeio acompanhado pelo Guia Triângulo de São Paulo, na esperança que ele deva ser revisado em breve para incluir mais pontos nessa história que ainda está longe de ser terminada.