O incomparável mestre da arquitetura de museus Renzo Piano adicionou mais um projeto a longa lista de instituições culturais que levam a assinatura de sua empresa, a Renzo Piano Building Workshop. Ou, neste caso, pode-se também dizer que foram três novos museus adicionados ao ranking, já que o Harvard Art Museums reúne o Fogg Museum, o Busch-Reisinger Museum e o Arthur M. Sackler Museum - três organizações independentes que fazem parte da Universidade de Harvard, e que agora estarão reunidas sob o mesmo teto.
E que teto! O elemento que conecta todo o projeto é um telhado de vidro que se estende da edificação original do Fogg Museum (o primeiro museu de arte da universidade, aberto em 1896, e que conta com uma extensa coleção de arte que vai de objetos da Idade Média até a era atual), atravessa o pátio interno e cobre a nova edificação, que abrigará os outros dois museus.
Essa confluência de tantas estruturas foi um dos desafios do projeto, que organizou o fluxo do programa de maneira que os três museus pudessem operar de forma independente. Portanto, cada museu, além de ter suas próprias galerias, tem ainda arquivos, áreas de restauro e estudos individuais. Esses últimos departamentos estão localizados sob o telhado de vidro, que conta com um sofisticado sistema de telas para filtragem de luz que permite o uso controlado de iluminação natural, sem que haja dano às delicadas obras das coleções.
Outro cuidado tomado foi com a madeira usada no exterior da parte nova. Após a equipe ter decidido que madeira seria uma boa opção para a superfície da fachada, em sintonia com os prédios do entorno que também usam o material, foi contratado um especialista para ajudar na escolha do melhor tipo, considerando fatores de sustentabilidade, resistência estrutural e quocientes térmicos. E para adicionar movimento às fachadas, as longas tiras de madeira tem seu perfil ligeiramente torcido nas pontas, criando um dinâmico chiaroscuro.
A adaptação do pátio coberto (já existente) é um dos destaques do projeto. As fachadas interiores originais, inspiradas na tradicional arquitetura italiana renascentista, foram restauradas, e o piso foi nivelado ao restante do andar térreo, criando uma circulação continua pelo projeto das entradas à área do lobby. Desta maneira, foi enfatizada a conexão entre o Busch-Reisinger (dedicado a arte derivada da língua alemã) e o Sackler (repositório de importante coleção de arte asiática). Acima, uma skylight (com um look industrial remanescente da estética Beaubourg) cobre toda a área do pátio e banha de luz o espaço (um traço característico de Pritzker).
Apesar de ser um projeto relativamente modesto (aproximadamente 18.500 m²), houveram várias complexidades contextuais que exigiram muito jogo de cintura do arquiteto, como a proximidade ao único edifício desenhado por Le Corbusier nos EUA, e a necessidade de se criar com este museu um ambiente que alimentasse o diálogo com a comunidade de Cambridge (cidade onde se localiza Harvard).
Com o Harvard Art Museums, Renzo Piano mostra mais uma vez porque é o arquiteto preferido pelos diretores de museus. Do alto da sabedoria e experiência dos seus 77 anos, Renzo e sua equipe (que nesse projeto teve Elizabetta Trezzani como coordenadora) conseguiram criar um elegante ambiente que abriga três “moradores” distintos, conferindo-lhes condições ideais de contemplação de seus acervos e, ao mesmo tempo, acolhe e propicia a integração comunitária que é possível num espaço cultural de qualidade.