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Impactos e legados de megaeventos

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Não são poucas as polêmicas envolvendo megaeventos no Brasil, basta lembrar das manifestações de junho de 2013 contestando a Copa do Mundo. Muito se discutiu sobre o que foi feito, sobretudo, o que deixou de ser feito e a que custo. Alguns meses depois de terminada a competição, os resultados são contraditórios. Vários elefantes brancos e projetos de transporte inconcluídos por um lado, e um inegável sucesso na atração de turistas e no desenrolar do evento de outro. Se pesados em termos econômicos, estes aportaram em torno de R$ 700 milhões, um retorno longe do custo de mais de R$ 25 bilhões daqueles.

No início do processo, divulgava-se o retorno do planejamento urbano das cidades-sedes eleitas, com a construção ou incremento da rede de transporte público, revitalização do entorno de alguns estádios reformados ou mesmo a criação de bairros inteiros nas proximidades de novos estádios. Brasília ainda aguarda a construção do VLT que conectaria o aeroporto à Asa Sul, na cidade do terceiro mais caro estádio do mundo; a Arena Amazonas de Manaus já teve a insólita proposta oficial de ser convertida em presídio temporário e o aeroporto de Guarulhos espera impaciente a chegada da linha da CPTM anunciada em 2012. Das 74 ações de mobilidade urbana previstas, 18 foram canceladas e 38 só ficarão prontas após a Copa.

Impactos e legados de megaeventos (Foto: Divulgação)

Agora as atenções estão voltadas para o Rio de Janeiro, sede dos jogos de 2016. Suprassumo do modelo olímpico de sucesso, Barcelona parece constituir a exceção, não a regra. Os jogos de Atenas contribuíram fortemente para a dívida que arruina a Grécia atualmente, Pequim tem seus espaços Olímpicos quase abandonados, exceto por um ou outro evento e Londres ainda aguarda o tempo dizer como será a reconversão da zona leste da cidade, na qual estádios e habitações sociais foram construídos lado a lado para evitar a esterlidade pós-jogos.

Não podemos negar que o Rio de Janeiro está empenhado em romper com o modelo de jogos a custos exorbitantes que deixam grande impacto nas contas públicas e legado pífio à cidade, ao menos no que diz respeito ao legado. A disseminação do evento pela cidade, ao contrário do modelo de concentração de Londres, pode permitir que os benefícios atinjam diferentes áreas. Existem críticas quanto a localização da Vila Olímpica, na Barra da Tijuca, mas a conexão entre a zona oeste e o centro, outro foco de desenvolvimento relacionado aos Jogos, é de longa data, como observado nos planos Doxiadis e Lúcio Costa, dos anos 1960.

Na Vila Olímpica, por exemplo, a arena de handball será convertida em estrutura para quatro escolas e os apartamentos que acolherão os atletas serão transformados em habitação social. Tanto o parque quanto as piscinas serão utilizados pela população local, criando forte atratividade para esse novo bairro que está por surgir. No centro, o projeto do Porto Olímpico tem avançado rapidamente, apesar dos temores que algumas obras não consigam ser finalizadas até a data dos jogos. Entretanto, é inegável que a demolição da via perimetral, que compunha obstáculo à conexão do centro carioca com a baía de Guanabara e a criação do pólo cultural em torno da Praça Mauá, com o Museu do Amanhã, de Santiago Calatrava, e o MAR, de Bernardes e Jacobsen, já dão provas do que está por vir.

O  Rio de Janeiro redescobre seu centro histórico e tem o potencial de ampliar sua vocação turística como polo cultural. A abertura da Casa Daros, em Botafogo, ilustra bem esse novo momento da cidade, com uma intervenção arquitetônica impecável em complemento a mostras de arte contemporânea latino-americana imperdíveis. Além disso, diversas instituições culturais estão em marcha, como o Museu da Imagem e do Som, de Diller, Scofidio e Renfro. Houveram concursos recentes para anexo da Biblioteca Nacional na zona portuária, e para anexos da fundação Rui Barbosa e do próprio MIS no centro da cidade.

Impactos e legados de megaeventos (Foto: Divulgação)

Em se tratando de megaeventos, não podemos deixar de citar a participação do Studio Arthur Casas na próxima Exposição Universal em Milão, no ano que vem. Iremos construir o pavilhão do Brasil junto com o Atelier Marko Brajovic, que fará a expografia. É sempre bom lembrar que o maior símbolo da capital francesa, a torre Eiffel, é legado da exposição de 1889 e estava prevista, originalmente, para ser desmontada. O Brasil tem larga experiência nesse domínio, com o transporte do Palácio Monroe, grande prêmio da Expo Saint Louis de 1904, para o Rio de Janeiro, onde foi convertido em sede do Senado Nacional.

Impactos e legados de megaeventos (Foto: Divulgação)

 

Impactos e legados de megaeventos (Foto: Divulgação)

No caso de Milão, o plano diretor liderado pelos arquitetos Stefano Boeri e Jacques Herzog, teve enorme preocupação com o impacto e com o legado de evento de tamanha magnitude no entorno. Ele se inscreve na reurbanização de área industrial em decadência, que já conta com os edifícios de Massimiliano Fuksas que abrigam a tradicional feira. As estruturas foram todas concebidas para ter fácil montagem e desmontagem, o terreno da expo vai se tornar parte integrante da cidade, longe da desolação que restou dos pavilhões da última expo, em Xangai. O pavilhão brasileiro não será distinto, com uma estrutura e materiais leves e sustentáveis.A intenção é mostrar que o impacto do efêmero pode trazer legado perene pela escala modesta de um pavilhão.

Impactos e legados de megaeventos (Foto: Divulgação)

 


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