Carlos Huffmann está em seu estúdio em Buenos Aires, Argentina. Sentado entre a bagunça de muitos livros, escolhe um novo título para ler – o guia do editor -, que faz sua imaginação ir para outro lugar: a antiga editora de livros e revistas que pertencia à Adriana Hidalgo, sua mãe. Inspirado, ele decide que precisa pintar como forma de retribuição por ter convivido entre tantas folhas e muitas histórias. Pincelada por pincelada, criou a série Quinze novelas e um guia de usuário. Nenhuma das pinturas deixa claro qual livro Carlos retrata: sem título, tudo o que importa é a história em si. Uma dica? Perguntei o que ele gosta de ler: "me gusta leer muchisima cosas". Poesia, divulgação científica, filosofia, literatura e um pouco de política estão entre os temas preferidos. “Minhas leituras apontam para uma compreensão da complexa realidade", diz.
A cena descrita acima é imaginada, porém o contexto em que vive o artista de 34 anos é bem real. Conhecido por seus óleos sobre fotografias (também clicadas por ele) de caminhões que competiram no rali Paris-Dakar de 2008, as gigantes de 2 x 3 m ficam interessantes ao lado de seus desenhos com um quê de delicadeza - apesar do traço turbulento. “Meu trabalho é assim porque me interesso pelas conexões contrastantes. Por isso mesmo minhas leituras são tão variadas: tento, em meu trabalho, mostrar a união de extremos.”
Guilherme Simões de Assis, um dos idealizadores da SIM Galeria, localizada em Curitiba, pesquisava por uma coleção de Tel Aviv quando se deparou com uma tela de Huffmann e descobriu que o artista era sul-americano, mas ainda sem representação no Brasil. O encanto foi imediato e agora a galeria apresenta, até o dia 20 de dezembro, a primeira individual do argentino no Brasil. Aliás, uma das telas foi comprada por Jorge Pérez, mecenas do Perez Art Museum Miami.
Os gêmeos da arte
Laura e Guilherme Simões de Assis criaram o espaço em 2011 com o desejo de fomentar o mercado e a vivência da arte - principalmente a contemporânea - de Curitiba. A vizinha Casa de Pedra abriga um espaço do pai dos gêmeos, também galerista. Para transformar e diferenciar o ambiente, um retângulo de vidro foi construído em sua entrada. O impacto não é só arquitetônico, mas também cultural: os artistas que expõem na SIM têm liberdade para criar uma intervenção ou obra site specific. Neste ano, Romy Pocztaruk, que apresentou a individual “Um vasto mundo”, impressionou quem passava na região: “ela usou 4 toneladas de areia e palmeiras verdadeiras. As pessoas ainda falam que gostaram da "praia”, conta Guilherme.
Quando pergunto como escolhem em qual artista ou obras investirão, a resposta é uníssona: “não dá pra comprar o que a gente não gosta, mas também não dá pra investir sem antes pesquisar muito”. O know-how da dupla sobre coleções mundiais, de Miami até Israel, é evidente.
Apesar de insiders do circuito tradicional das artes no Brasil (Rio-SP) e no mundo (6 horas depois da nossa entrevista Guilherme pegou um voo para prestigiar os eventos Miami Basel e Design Miami), seu trabalho pode contribuir para o crescimento cultural de regiões fora do eixo comum. Se filho de peixe peixinho é, eles nadam para outros oceanos: as vendas e contatos comerciais têm tomado outra faceta, pois os artistas saem do ambiente da galeria para estrelarem museus públicos, como Isidro Blasco, que tem individual no MUMA, Museu Municipal de Arte de Curitiba, e Eliane Prolik, que também tem uma solo no MON, Museu Oscar Niemeyer.
Carlos Huffmann
Data: até 20 de dezembro
Local: SIM Galeria
Endereço: Alameda Presidente Taunay, 130 A, Curitiba, Paraná
Horário: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h
Entrada gratuita