Tem vinhos saborosos, tem. Tem literatura melancólica, tem. Tem belíssimas praias, tem. Tem gastronomia de lamber os beiços, tem. Tem porcelana de alta qualidade, tem. Tem tradição como ninguém. Uma dessas histórias, conto aqui: era 1824. José Ferreira Pinto Basto comprou a bela Quinta da Ermida, ao lado do Delta do Vouga, para instalar uma fábrica de porcelanas, já que os portugueses eram os maiores importadores da China. A navegação facilitava o comércio. As casinhas ao lado de sua residência, a capela e o teatro, eram para os funcionários e se tornaram palco de muitas festas e casos relembrados até hoje. E foi nesse clima familiar que José, seus filhos e netos construíram uma marca que virou símbolo mundial de excelência e cartão-postal de Portugal.
Se as peças da Vista Alegre são conhecidas pela estética clássica, não espere, entretanto, encontrar somente ícones, como a coleção Pétalas e os jogos de xadrez, na primeira flagship da grife nas Américas, que abriu este mês em São Paulo. Eles estarão lá, claro. No entanto, quem visitar a loja da Oscar Freire terá, também, a oportunidade de entender melhor a forte ligação da marca com designers, estilistas, arquitetos, ilustradores, músicos, escritores e cineastas de todo o mundo (note: as parcerias com mentes criativas começaram ainda no século 19, com o pintor Victor Rousseau, mas intensificaram-se a partir de 2010). O mais bacana? Apesar de já ter lançado coleções desenvolvidas por figuras do nível de Christian Lacroix, Oscar de la Renta, Marcel Wanders e Jean-Jacques Sempé, entre outros, a Vista Alegre não vive só de grandes nomes e sobrenomes.
Em 2012, estreou o programa International Design Pool para acolher jovens talentos em uma casa charmosíssima ao lado da principal fábrica, em Ílhavo. Ao final de três meses, eles apresentam uma coleção que, se aprovada, pode entrar em produção com o selo Vista Alegre. “A residência é bastante gratificante para ambas as partes. Eles têm acesso a todas as etapas de produção das três fábricas do grupo, enquanto nós temos a chance de absorver suas referências e renovar a marca. Até agora, recebemos cerca de 40 designers, e cerca de 15 projetos já são comercializados”, relata Nuno Barra, diretor de marketing e design externo. Malgorzata Mozolewska, uma das designers que está imersa no mundo Vista Alegre neste final de ano, já trabalhou com Marcel Wanders e pretende fazer uma série de bonbonnières que mistura cerâmica e cristal – o que vai exigir uma colaboração entre as unidades de Ílhavo e de Alcobaça (especializada em vidro e cristal). Talentosa e, sem dúvida, ambiciosa.
E se os portugueses gostam tanto de nossas novelas, não é de se estranhar parcerias de sucesso com brasileiros. Ano passado, a empresa lançou duas coleções com assinatura tupiniquim que nasceram no programa de residência ID Pool. Transatlântica, de Brunno Jahara, está na lista top 5 das mais vendidas da marca, e quando menciono o designer, todos abrem um pequeno sorriso, como se tivessem sido cúmplices de alguma peripécia. Já a carioca Fernanda Massotti se envolveu com o jeitão familiar que ainda persiste na companhia e no dia a dia em Ílhavo para elaborar Bairro das Flores, uma versão de tableware para crianças. “Ganhamos bicicletas e eu saía para passear na cidade diariamente. Era inverno e não via quase ninguém na rua, mas reparava que todas as casinhas tinham flores e eram muito bem cuidadas. Isso me marcou e passei a imaginar como seriam os interiores daquelas casas. Assim nasceu a coleção.”
