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Móveis com a beleza do conserto

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  Paulo Goldstein (Foto: divulgação)

Ao ver uma peça criada por Paulo Goldstein, infinitas teorias podem passar pela cabeça do observador. Cadeiras e armários ganham personalidade única ao incorporarem exoesqueletos cheios de traquitanas. Mas ao conversar com o designer, que atualmente transita entre Londres e São Paulo, as coisas começam a fazer mais sentido – apesar de serem conceitualmente complicadíssimas. "Meu trabalho surgiu como uma forma de suprimir a frustração. Era uma fase em que as coisas não estavam dando certo e, então, fiz um paralelo dos entraves da vida com pequenos objetos que não funcionam e geram aquela raivinha no fim do dia", conta ele, em entrevista exclusiva à Casa Vogue. "Depois conheci uma teoria econômica – aplicada em uma porção de áreas humanas – que se chama Lei das Consequências Não Intencionais. Basicamente, ela diz que todos os atos geram resultados inesperados, sejam bons ou ruins. Abracei o conceito e assim nasceu minha primeira coleção, Repair is Beautiful."

Paulo Goldstein (Foto: divulgação)

Para construir suas primeiras peças, feitas como conclusão de um mestrado na Universidade Central Saint Martins, em Londres, Goldstein partiu do pressuposto de consertar objetos quebrados e devolver a eles a função, não importa como. "É um processo de 'gambiarra chic', quase como reinventar a roda. Quando deixamos o defeito de um objeto exposto e cheio de distrações ao redor, as pessoas passam a não notá-lo mais. É assim que crio e é assim que a sociedade funciona."

Um bom exemplo é o fone de ouvido que fez em 2010. Com uma parte plástica quebrada, o autofalante não funcionava mais. Para dar vida nova a ele, foi necessária uma estrutura de madeira - o que fez com que ficasse muito pesado, gerando então a necessidade de um apoio para o ombro. "É um processo quase infinito de consertos. Se eu simplesmente trocasse a peça quebrada pro outra igual, o projeto não teria sentido. E se eu reparasse todos os problemas que surgem, teria trabalho para o resto da vida."

Assim, uma clássica luminária Anglepoise – a primeira peça de Goldstein – ganhou novas engrenagens externas; uma cadeira de diretor recebeu uma estrutura protética para ajustar a tensão, e um iPod Shuffle foi parar em um pedaço de osso. "Lidar com a frustração significa retomar o controle do que incomoda. No meu caso, o trabalho manual traz essa sensação. Os itens que crio são como capítulos da minha pesquisa."

Paulo Goldstein (Foto: divulgação)

A Teoria das Consequências Não Intencionais parece funcionar bem na vida do artesão. Filho de uma bióloga e um médico que, como hobbie, construíam estátuas de cerâmica e barcos em escala, ele cresceu em um ambiente cercado de ferramentas e aprendeu cedo a arrumar brinquedos. Logo ao descobrir que, ao invés de reparar poderia criar, ganhou um pequeno ateliê dos pais em um quarto desocupado e lá desenvolveu o gosto pela criação.

Mais tarde, ao falhar no vestibular para Odontologia, resolveu estudar Artes Plásticas como forma de aproveitar suas habilidades. Passou alguns anos realizando ilustrações e esculturas para as páginas de revistas e, quando não sabia mais o que fazer, tirou uma temporada sabática na Europa com a sua então namorada. Por lá, mudou-se para Londres, consertou cadeiras em uma escola para ganhar algum dinheiro e, depois de muita insistência – entenda-se ligações semanais durante um ano –, mudou-se para Manchester e foi trabalhar no estúdio de bonecos Mackinnon & Saunders, onde participou de sucessos de animação como Noiva Cadáver, de Tim Burton; e O Fantástico Sr. Raposo, de Wes Anderson.

Paulo Goldstein (Foto: Divulgação)

"Queria ser dentista e não passei. Durante a faculdade percebi que meu trabalho também não configurava artes plásticas. Fui feliz fazendo bonecos, mas não via perspectiva de futuro. Foi quando descobri que gostava de outra coisa. Fazer mestrado em design foi uma forma de juntar tudo que eu fazia antes, executar muito mais e me sentir satisfeito. Mas no fim das contas, não pertenço apenas ao design. Ja participei de exposições de design, de arte e de artesanato, todas com as mesmas peças. A minha formação é uma junção de tudo que vivi. Fui trabalhando do jeito que eu vou levando a vida. É meio caótico, mas funciona."

Paulo Goldstein (Foto: Divulgação)

Depois de Repair is Beautiful, veio o convite do reitor da universidade para produzir uma instalação permanente que funcionaria como uma sala VIP. A iniciativa, batizada de Scarcity Project, criou móveis a partir de pedaços encontrados por Londres. E como uma mente criativa que não pára nunca, ele continuou desenvolvendo móveis com o que encontra por aí. "Minha pesquisa é voltada para o que as pessoas descartam. Tenho interesse no conceito do acúmulo de conhecimento. Trabalho com o que foi produzido pelos outros e dou a esses pedaços um novo significado. Tanto a sustentabilidade quanto a estética surgiram apenas como consequências", revela.

Paulo Goldstein (Foto: divulgação)

Agora, de volta ao Brasil – onde participou recentemente da feira MADE, em São Paulo – Goldstein se prepara para mais uma temporada na capital britânica. Sua exótica cadeira de diretor fará parte de uma mostra no renomado Victoria and Albert Museum, onde também ministrará um workshop de criação. Em abril, ele revelou para Casa Vogue que participará do Salão do Móvel de Milão. Depois de passar pela capital mundial do design, ele ainda não sabe o que vai acontecer. O que vem a seguir, só o destino poderá dizer.

Paulo Goldstein (Foto: divulgação)

 

Paulo Goldstein (Foto: divulgação)

 

Paulo Goldstein (Foto: divulgação)

 

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