Trabalhar com a efemeridade é um desafio que traz para a mente de quem o aceita uma nova forma de ver a vida. A obra do italiano Leonardo Ulian eleva esta lição a um nível mais alto ao combinar dois elementos que são verdadeiras odes à transitoriedade: a tecnologia e as mandalas. O primeiro é um exemplo de finitude graças à constante evolução de gadgets e acessórios. Feitos para durar por apenas alguns anos, objetos que revolucionam a vida do usuário em um dia, acabam virando sucata no outro. O segundo, que surgiu como um exercício tibetano realizado pelos monges, necessita de horas ou dias de dedicação para o surgimento de uma beleza fadada a ser destruída.
Foi para fazer um paralelo improvável entre as duas fontes tão diferentes que o artista radicado em Londres criou a série Technological Mandalas. "Combinar estes mundos opostos é uma maneira de sublinhar o fato de que a tecnologia eletrônica se tornou fundamental na vida contemporânea, algo a se louvar", conta ele. "As mandalas são verdadeiras obras de arte e de paciência que podem ser destruídas facilmente depois de dias de trabalho. O mesmo acontece com todos esses acessórios eletrônicos essenciais em nossa vida."
O interesse pelos chips coloridos e fios brilhantes que formam rádios, celulares e computadores apareceu quando Ulian era apenas um garoto. A curiosidade infantil de descobrir o que há dentro dos itens do dia a dia acabou evoluindo para os trabalhos que ele chega a levar 10 dias para concluir. "Pode parecer uma dúvida óbvia, mas ainda hoje me pergunto como funcionam esses objetos sobre os quais ninguém questiona o funcionamento. A descoberta é, para mim, como um processo mágico, alquimia."
Para dar origem às mandalas hi-tech, o artista cria para si um sistema de regras, impedimentos e erros que permite a ele pernsar de forma concreta em algo belo. "Criar mandalas é um exercício puro e fascinante de geometria. Uma representação ordenada que é usada para explicar algo que provavelmente não tem nada a ver com a geometria: o significado de tudo que percebemos ao nosso redor como seres humanos." O resto é pura intuição. "E não há uma forma de acelerar o processo de produção. É apenas uma questão de estar na peça com calma e sem pressa. É como meditar."
Ulian também criou uma série chamada Microchips Synapses – na qual usa os pequenos processadores e fios de cobre para mimetizar as conexões entre as células do cérebro – e totens compostos por livros e fios. Suas novas peças ganharão uma exposição solo que acontecerá, em março, na The Volta New York Art fair, um sinal de que, ao unir duas facetas da efemeridade, talvez o artista tenha conseguido driblá-la.