Poul Kjaerholm (1929-1980) é, sem dúvida, um dos grandes nomes do design escandinavo. Cultuado muito além de sua Dinamarca natal, ele produziu, ao longo de sua carreira –interrompida prematuramente por um câncer de pulmão – móveis que se tornaram clássicos do design dinamarquês. É o caso da chaise-longue PK 24, talvez sua criação mais icônica, que integra o acervo de museus como o MoMA, o Victoria & Albert e o Vitra Design Museum. “A PK 24 foi projetada em um dos períodos mais produtivos de Poul Kjaerholm e é, de certa forma, o ápice do trabalho deste designer”, afirma Christian Grosen Rasmussen, diretor criativo da dinamarquesa Fritz Hansen, que, desde 1982, fabrica esta e uma série de outras peças de Kjaerholm (leia mais no intertítulo abaixo).
Surgida há 50 anos, esta chaise é um exemplo da feliz combinação entre o artesanato tradicional e a produção industrial nas criações de Kjaerholm. A madeira, matéria-prima mor do design escandinavo, no vocabulário deste designer foi substituída pelo metal: “O potencial construtivo do aço não é a única coisa que me interessa; a refração da luz na sua superfície é parte importante do meu trabalho artístico. Considero o aço um material com o mesmo mérito artístico que a madeira e o couro”, afirmou certa vez. Não se tratava de mero rompimento com a tradição – ainda mais levando-se em conta a formação inicial de Kjaerholm como marceneiro e seus posteriores estudos com Hans J. Wegner na Escola Dinamarquesa de Artes e Ofícios –, e, sim, do despertar de uma nova estética, mais alinhada à indústria e também ao modernismo que acontecia no resto da Europa.
A PK 24 mostra como o designer incorporou conceitos de Le Corbusier (a estrutura com ajuste contínuo da inclinação do assento, como na famosa chaise LC4, assinada por Corbusier, Perriand e Jeanneret) e de Mies van der Rohe (o uso da barra achatada de aço, material frequente nos móveis de Mies), mas de uma maneira totalmente própria. Sua linguagem era a do reducionismo formal, porém com grande riqueza expressiva. Como afirma o americano Michael Sheridan em seu livro The furniture of Poul Kjaerholm, ao criar objetos elementares, livres de referências tradicionais, surgiam cadeiras e mesas arquetípicas, atemporais. Nesse contexto, os materiais ganhavam destaque: combinados ao aço, surgiam o vime, o couro, o mármore ou a própria madeira – no caso da PK 24, vime e couro foram os escolhidos.
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No que diz respeito à construção, a chaise utiliza o “princípio do equilíbrio neutro” desenvolvido por Kjaerholm, no qual as partes principais não têm conexão física entre si e são mantidas juntas exclusivamente pela gravidade e pela fricção entre os elementos. Assim, as três partes da cadeira – base, assento e colchão – são soltas, o que permite ao ocupante ajustá-las como quiser. O assento corre sobre um par de trilhos-guias que se apoiam em duas faixas de aço. A almofada que sustenta o pescoço também é solta, sendo mantida no lugar apenas pela barra de aço inox que faz as vezes de contrapeso. Simples e genial.
Por dentro de um ícone
Para quem busca uma imersão na história do design dinamarquês, boa pedida é conhecer a sede da Fritz Hansen, no município de Allerød, vizinho a Copenhague. Lá, a empresa montou um centro de visitação onde é possível visualizar todas as peças que já produziu, organizadas em uma linha do tempo, e também visualizar o desenvolvimento de alguns produtos: descobrir como é feita a laminação da madeira que compõe a concha da célebre Series 7, de Arne Jacobsen, e ver os croquis e maquetes de desenvolvimento da Ro, de Jaime Hayon, são alguns exemplos. A visita pode ser agendada junto à Atec Original Design, representante exclusiva da Fritz Hansen no Brasil, pelo e-mail fritzhansen@atec.com.br.
* Matéria publicada em Casa Vogue #353 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)
*A jornalista viajou a Allerød a convite da Atec Original Design