Com apenas dois anos de existência, a Guild Design Fair ostenta, com propriedade, uma tríade de características bem-vindas em qualquer lugar: criatividade, cooperação e consciência social. Os corredores do pavilhão feito pela firma Antoni Associates, no espaço The Lookout, V&A Waterfront, na Cidade do Cabo, ficam recheados, até o dia 1º de março, de peças de design que ressaltam a troca de informações entre criativos de diferentes lugares do mundo.
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Não por acaso, elas têm como referência principal a África e suas singularidades. Como resultado, trazem para a estética contemporânea, em um mix de tecnologia e do handmade, o melhor da cultura e da arte de um continente tão rico.
Casa Vogue fez as malas e foi ver tudo de perto. Aqui você confere os highlights da única feira de design internacional da África, que exibe, em primeira mão, trabalhos comissionados para estrearem na Guild Design Fair antes de viajarem o mundo. Para ver mais, procure pela hashtag #casavoguenaafrica ou acesse a nossa página do Instagram.
Guild Design Fair
Data: até 1º de março
Local: The Lookout, V&A Waterfront, Cidade do Cabo, África do Sul
Mundo dos sonhos
Haas Brothers para a R & Company
Os festejados Haas Brothers, de Los Angeles, trabalharam em parceria com as marcas locais Monkeybiz e Bronze Age Foundry para gerar os Afreaks, esculturas fantasiosas que unem o design ao trabalho artesanal. As criaturas bordadas com miçangas por artesãs africanas – apelidadas carinhosamente de Haas Sisters – se reúnem ao redor de um cogumelo de 2,5 m, feito do mesmo material, para dar origem a um cenário colorido e psicodélico no meio da feira.
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Escuridão artsy
Studio Molen para a Carpenters Workshop Gallery
O designer convidado Frederik Molenschot, do Studio Molen, se inspirou na tonalidade azul escura que o continente africano apresenta em imagens de satélite, ao contrário das grandes metrópoles iluminadas, para criar a instalação Sleeping Swaziland. Feita de fibras naturais por artesãs da Suazilândia, a estrutura tem como objetivo chamar a atenção para as necessidades dos povos locais.
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O retorno do filho pródigo
Kendell Geers para a Carpenters Workshop Gallery
O sul-africano Kendell Geers, radicado em Bruxelas, foi eleito o artista do ano e exibe, pela primeira vez, seu polêmico trabalho na terra onde nasceu. A Carpenters Workshop Gallery traz uma seleção de trabalhos do autodenoninado “terrorista da arte” que fazem referência a acontecimentos políticos e sociais, lançados na última edição do Design Miami. Os bancos recordam a exploração do petróleo na África enquanto a luminária Black Dhalia VI resgata, de forma otimista, o brutal assassinato da atriz Elizabeth Short, conhecida como Black Dahlia, em 1947.
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Tradição Tribal digitalizada
Mary-Lynn e Carlo Massoud, para a Carwan Gallery
Os irmãos libaneses Mary-Lynn e Carlo Massoud se inspiraram no formato das bonecas africanas da fertilidade para dar origem à coleção de objetos – que podem ser usados como bancos ou mesas laterais – batizada de Autopsy. O primeiro trabalho em conjunto da dupla foi feito em Beirute usando a cerâmica como técnica. As peças foram, então, digitalizadas e enviadas para os criadores da galeria Carwan, também do Líbano, que estavam na Cidade do Cabo. Lá, foram impressas em 3D e, depois, moldadas em bronze. Como resultado da interferência tecnológica surgem veios na superfície de cada um dos itens que se assemelham, ironicamente, à madeira: material usado nas tribos para a confecção dos objetos que inspiraram o projeto.
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Mix urbano e étnico
Peter Mabeo, do estúdio Mabeo Furniture
O designer de móveis Peter Mabeo, criador do estúdio Mabeo Furniture, trouxe de Botsuana uma série de móveis que trazem a estética tipicamente africana para a linguagem contemporânea. Para tal, ele contou com a colaboração de nomes de peso como Patricia Urquiola, sua apoiadora e amiga pessoal, e o designer conceitual Porky Hefer.
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O poder do handmade
The London Conoisseur
A coleção The London Connoisseur, feita sob a curadoria da jornalista especializada em design, Helen Chislett, reúne peças que têm como característica principal o artesanato. Dentre elas, estão Can City, do Studio Swine, e itens do arquiteto Thomas Heatherwick, parte do MOCAA (Museu Africano de Arte Contemporânea).
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Curadoria de primeira
Southern Guild
A galeria responsável pela feira continua, na segunda edição, fazendo o que sabe de melhor: reunir o que há de mais interessante no país quando se fala de design colecionável. São móveis e itens de decoração conectados com as novidades do mundo.
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Luminárias com personalidade
Stephen Burks Man Made
O designer nova-iorquino Stephen Burks, famoso por seu trabalho exclusivamente manual, teve apenas duas semanas e meia para produzir as peças expostas na Guild Art Fair. Usando como referência as padronagens africanas, ele criou uma família de luminárias de formas antropomórficas com o objetivo de humanizar o continente que, de acordo com ele, é comumente visto apenas como um pedaço de terra sem singularidades e diferenças.
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Exército de papel
Conrad Botes, para a Bennet Contemporary
A coleção Sad Man Tongue, criada pelo artista e cartunista Conrad Botes para a galeria Bennet Contemporary, é formada por uma infinidade de personagens tridimensionais feitos do papelão que ele encontrou no lixo da Bronze Age Foundry, onde fica seu estúdio. Os trabalhos questionam a fragilidade do material utilizado e mostram que é possível utilizar papel, sem problemas, se houver criatividade.
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Da África para o mundo
Design Network Africa
O projeto Design Network Africa, também conhecido como DNA, reúne os trabalhos de designers respeitados vindos de países subsaarianos como Mali, Gana e Tanzânia - que representam, com prestígio, a forma como os locais se expressam nos dias de hoje. Os produtos, que vão de mobiliário a itens de decoração, passando por esculturas e joias, foram escolhidos graças ao experimentalismo e originalidade que apresentam, gerando a possibilidade de que itens locais ganhem espaço no cenário global.
* O jornalista viajou a convite da South African Tourism