A simpática rue de Seine, no bairro parisiense de Saint-Germain-des-Prés, foi palco de grande polêmica, em 1953, devido ao grafite Ne travaillez jamais (Jamais trabalhe), inscrito em uma parede pelo jovem intelectual marxista Guy Debord. Já o arquiteto, decorador e designer Charles Zana, que em 1990 fincou seu escritório na mesma rua, percebe-se, segue a máxima de Confúcio: “Escolha o trabalho que amas”. O ensinamento do sábio chinês emana dos mais de 200 projetos, sofisticados e criteriosos, assinados por este francês, que nasceu na Tunísia, viveu em Nova York e conquistou Paris, Londres, Gstaad, Tel Aviv e Mônaco com seus espaços, orquestrados com a expressividade serena de seu estilo elegante e finalizados com perfeição. “O verdadeiro luxo está naquilo que é quase invisível”, diz o craque em entrevista à Casa Vogue.
Sua família é de origem italiana, mas estabelecida na Tunísia, e você vive em Paris, já morou em Nova York... Como esse caldeirão cultural forjou seu bom gosto?
Da Tunísia, guardo uma mistura de sofisticação com generosidade, própria da tradição oriental. Em Nova York, aprendi a trabalhar de forma ágil, rápida. Da França, herdei o sentido de proporção e a importância da cultura. Da Itália, carrego a paixão pelo design. Ter bom gosto é ser capaz de descobrir uma obra-prima em uma feirinha de antiguidades.
O design italiano está sempre presente em seus projetos. Quais são seus nomes preferidos?
Adoro a Itália e o seu design, em especial o dos mestres Alessandro Mendini, Ettore Sottsass, Andrea Branzi e Michele de Lucchi. Sottsass liberou o design das convenções formais e do funcionalismo. Branzi associou a função à estética e os sentidos aos sentimentos. Mendini redesenhou as peças de forma provocativa. De Lucchi desenvolveu um approach baseado na preservação do artesanato e na poética do objeto.
Seu perfeccionismo vem de onde?
A arquitetura trabalha em duas escalas opostas: a grande volumetria e o microdetalhamento. Mies van der Rohe dizia: “Deus está nos detalhes”.
Agora, vamos aos seus códigos estéticos. Quais são eles?
Sobriedade, elegância, precisão e excelência. Esses conceitos, aliados a referências históricas ou tradicionais em um contexto contemporâneo, norteiam o novo classicismo que elaboro, à maneira de um curador, na Agence Zana.
Explique melhor este conceito de curadoria.
Sinto enorme admiração pelos arquitetos dos anos 1930. Jean-Michel Frank, por exemplo, desenvolvia projetos baseados na sua curadoria, ou seja, na orquestração que ele fazia de todos os detalhes visando a coerência absoluta da linguagem final. Ele reunia grupos de artistas, designers e artesãos capazes de fornecer as melhores soluções para cada caso. É o que faço. Esse raciocínio criterioso está presente em nossos projetos – em Paris, no Hotel Le Marianne, na loja Zadig et Voltaire e no escritório da Condé Nast [todos concluídos em 2014].
Seus planos para 2015, quais são?
Estamos finalizando uma residência e o restaurante de um grande chef, ambos em Paris.
Também entregaremos uma cobertura, em Londres, e, em Tel Aviv, uma casa moderníssima. Em 2015 e 2016, lançaremos ainda alguns objetos de design que estão em andamento.
E o Brasil?
Nos últimos 20 anos, estive algumas vezes com minha família em vários lugares: Rio, Minas, São Paulo, Trancoso, Paraty, Bahia. Adoro a fusão de culturas, as pessoas, as paisagens... Nunca fiz nenhum projeto no país. Quem sabe?
* Matéria publicada em Casa Vogue #353 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)