Escultura, fotografia, gravura, colagem digital, vídeo ou instalação. Para a artista Alyson Shotz o meio não importa, mas sim a oportunidade para explorar e expressar os temas que a interessam como artista. Eles são diversos e envolvem princípios matemáticos, literatura, computação gráfica e muito mais.
Mas é possível afirmar que o movimento e a luz são uma constante no seu trabalho. Com uma habilidade especial em traduzir a passagem do tempo em criações originais, várias de suas obras oferecem ao observador uma experiência tanto dinâmica como contemplativa.
Um bom exemplo disso é a instalação de parede White Fold, criada in situ para a exposição Alyson Shotz: Force of Nature acontecendo no Wellin Museum of Art, situado ao norte de Nova York. Realizada com linhas de linho branco e alfinetes, a artista inicialmente desenhou um grid no computador e então aplicou digitalmente várias forças e elementos como vento, fricção, peso e massa, gerando no processo uma complexa animação.
Dessa animação foi captado um frame específico que foi transferido como um estêncil para a parede do museu, servindo como guia para a criação do mural abstrato de mais de 15 metros. Já a execução do mural propriamente dito foi feita toda manualmente, ou melhor, a muitas mãos, já que contou com a ajuda de vários estudantes do Hamilton College (onde se situa o museu), usando a técnica antiga de se criar imagens desenhando com linha e pregos.
O que começa com sofisticados programas de software chega ao momento poético graças ao gesto virtual humano. O resultado final é sutil, sendo branco no branco, mas rico em movimento, possibilitando diferentes leituras dependendo da relação com a luz e do ponto de onde se observa.
Luz é também o elemento que dá vida a duas outras obras da exposição. Uma é a instalação Frames per Second, uma cortina composta por tiras de acrílico espelhado que tira partido do reflexo fraturado do material para criar efeitos de luz que interagem com tudo a seu alcance. A outra é a instalação Invariant Interval, uma rede feita de canutilhos, pendurada em forma circular que ora informa e filtra a vista através de seu interior, ora define um volume etéreo mas com presença marcante.
E justo quando achamos que a geometria é a senha para decifrar o código conceitual da artista, Alyson nos apresenta o trabalho cerâmico Recumbent Folds (dobras reclinadas), que nasceu puramente da experimentação. "Aprendi a prestar atenção nas pistas de uma ideia. Às vezes é sutil, e se demora a perceber. Ao invés de fazer desenhos, prefiro começar experimentando", diz a artista. "Em um processo que pode demorar semanas, meses e até anos", completa.
Nesse projeto, ao experimentar com a criação de potes cerâmicos, Alyson viu no "acidente" de execução valores paralelos a seus interesses. Cada peça afetada pela temperatura adquiriu gradualmente formas próprias, claramente distintas entre si, fazendo uma contundente alusão à definição da identidade individual através do tempo.
A exposição tem curadoria de Tracy L. Adler, que acompanha o trabalho de Alyson há 15 anos. Tracy conseguiu reunir mais de 50 peças da artista, cobrindo vários momentos e exemplos de seu caminho artístico. Não foi uma tarefa fácil. "O trabalho de Alyson tem várias camadas e pontos de acesso. Fazer a curadoria dessa exposição significou descascar essas camadas e descobrir novos ângulos no trabalho e compreender mais profundamente seus significados", disse Tracy sobre a experiência.
A exposição fica no Wellin até dia 5 de abril e depois viaja para Halsey Institute of Contemporary Art , em Charleston, Carolina do Sul, fazendo parte do famoso festival de arte Spoleto, que ocorre em maio e transforma a pacata cidade histórica num centro de arte experimental - uma ocasião perfeita para o trabalho de Alyson brilhar.
Alyson Shotz: Force of Nature
Data: até 5 de abril
Local: Wellin Museum of Art
Endereço: 198 College Hill Road, Clinton, NY, 13323