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Qual será a Havana do século XXI?

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Detentora das belezas naturais do Caribe mescladas às edificações construídas ao longo de séculos, Havana forma um conjunto inigualável, dos mais antigos nas Américas. Para além dos charutos, rum, açúcar e culinária envolventes como o ritmo da salsa, o patrimônio da cidade merece capítulo à parte. Em recente visita ao país, pude conhecer um pouco mais dessa cidade à beira de grandes transformações com a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos.

Havana (Foto: Divulgação)

Após a revolução de 1959 e do viés socialista afirmado desde 1961, Cuba vive sob o signo da contradição: busca incessante pela igualdade social que alcançou ensino gratuito de qualidade e medicina avançada, ao mesmo tempo, grande limitação de seu próprio desenvolvimento que penaliza a população com desabastecimento e precariedade. Nesse quadro, o patrimônio de Havana encontra-se notadamente deteriorado.

Havana (Foto: Divulgação)

A impressão ao andar pelas ruas de Havana é de uma viagem no tempo por uma cidade de contradições: decadente e charmosa, precária e segura. Os icônicos carros antigos circulam por toda a cidade, misturados aos inusitados triciclos turísticos, os coco taxis. Arquiteturas de diferentes períodos e estilos se mesclam.

Havana (Foto: Divulgação)

 

 

Havana (Foto: Divulgação)

Após o bloqueio imposto pelos americanos, os cubanos encontram muita dificuldade em obter materiais de construção. Assim, apenas parte dos edifícios pôde ser restaurada.  Esses esforços se concentram em La Habana Vieja, ao lado do centro moderno. Com casarões, palacetes e igrejas de fachadas em estilos pré-barroco, barroco e neoclássico, o Centro Histórico foi declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1982.

Havana (Foto: Divulgação)

 

Havana (Foto: Divulgação)

Do início do século XX até os anos 1930 a burguesia cubana construiu suas luxuosas residências no centro da cidade e, posteriormente, no bairro de El Vedado, projetadas por arquitetos locais formados nos Estados Unidos. O estilo Beaux Arts, inspirado na arquitetura de Paris e Nova York, foi predominante, com presença de elementos decorativos clássicos. Na década seguinte, o boom econômico produzido pela Segunda Guerra Mundial gerou um forte desenvolvimento dos bairros suburbanos. Com casas individuais da classe média, o estilo Art Deco foi adotado como principal identificador da modernidade, transformando o vocabulário clássico tradicional ao simplificar a  geometria dos ornamentos.

Havana (Foto: Divulgação)

 

Havana (Foto: Divulgação)


Tais construções mais recentes dintinguem a Havana Moderna, porém a sensação de estar parada no tempo perdura. Numa expressão completamente distinta das ruas estreitas do bairro histórico, encontra-se a Praça da Revolução, um dos maiores emblemas cubanos, palco de grandes manifestações populares e também dos longos discursos de Fidel Castro. No centro da praça está o monumento a Jose Martí, principal ícone Art Dèco e construção mais alta de Havana, de onde é possível avistar parte da região e do mar do Caribe, além das enormes imagens do Che e de Camilo Cienfuegos nos edifícios bordeando a praça.

Havana (Foto: Divulgação)

 

Havana (Foto: Divulgação)

Paradoxalmente, o embargo econômico imposto a Cuba na década de 60 é o responsável pela negligência e falta de recursos para a conservação de grande parte das edificações existentes, porém também é o principal motivo da preservação de conjuntos extraordinários, verdadeiros tesouros arquitetônicos, que certamente teriam desaparecido com a especulação imobiliária caso o rumo político tivesse sido outro. Com o aumento exponencial do número de turistas e o influxo de dólares, o patrimônio corre o risco de se tornar um cenário artifical, mas também pode ser a base de novos paradigmas de ocupação do centro histórico, um dos maiores temas urbanos em aberto em toda a América Latina, da Cidade do México à Santiago do Chile, de Salvador da Bahia à Lima, no Peru. Resta, portanto, a pergunta: qual será o futuro do riquíssimo patrimônio de Havana frente à reaproximação das relações entre os Estados Unidos e Cuba?

 


 


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