Esta edição da Bienal de Arte de Veneza é especial: completa 120 anos com 89 países participantes (incluindo um novo pavilhão, o da Austrália) e um curador nigeriano que, apenas do aniversário, não olha para o passado e sim para o futuro. All the World’s Futures, o título da Bienal comandada por Okwui Enwezor, é bastante sugestivo e nos obriga a refletir sobre os problemas de cada país e, é claro, suas consequências.
Como, então, representar o Brasil no seu pequeno território dentro de uma das cidades mais visitadas do mundo? Em tempos de crise política e econômica, Luiz Camillo Osorio e Cauê Alves escolheram uma frase de um dos cartazes que ocuparam as ruas do país durante as massivas e já históricas manifestações de 2013: É tanta coisa que não cabe aqui. É a insatisfação em relação ao presente, portanto, é o que impulsiona os trabalhos dos artistas selecionados para uma Bienal que questiona o amanhã. “Ao deixarem-se atravessar pelas inquietações do seu tempo, os artistas produzem deslocamentos poéticos que nos fazem imaginar outras formas de perceber a realidade”, explicam os curadores. É o caso da instalação Status Quo, de André Komatsu, que questiona a nossa noção de liberdade: o espectador passa por um corredor que afunila para causar um sentimento de claustrofobia. Em seguida, ele entra em uma grande jaula e se sente livre...apesar de aprisionado.
Em 1970, Antonio Manuel, outro artista selecionado pelo nosso pavilhão, fez uma performance chamada O corpo é a obra: despiu-se no MAM do Rio de Janeiro como resistência depois de ser recusado pelo Salão Nacional de Arte Moderna da época. Diante da polêmica e ameaça da prisão do artista (o Brasil vivia a ditadura militar), o crítico Mario Pedrosa declarou que “a arte é a única coisa contra a entropia do mundo”. Em Ocupação / Descobrimentos, ele cria interrupções no movimento do visitante e uni o Brasil utópico (representado pelo desejo da arquitetura moderna) ao Brasil frustrado (marcado pela vontade rompida de um obstáculo). Para completar, Berna Reale foi convidada para apresentar Americano, um vídeo no qual a artista expõe o estado precário de uma prisão no interior do país.
“Se não parece haver um novo modelo de sociedade, cabe à arte produzir pequenas alteridades, abrindo brechas nas normatividades que inviabilizam a criação de outras formas de estar no mundo”, declaram os curadores. Nem todos os pavilhões do espaço principal foram tão diretos e contestadores quando o brasileiro, mas muitos artistas certamente buscam novas possibilidades para suas realidades particulares. Veja, abaixo, alguns destaques entre os pavilhões do Giardini.