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Casa nova, vida antiga

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Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Mr. Swann se mudou para Nova York! Para quem não lembra, o arquiteto inglês foi um personagem criado pela dupla de artistas escandinavos Michael Elmgreen e Ingar Dragset – os mesmos responsáveis pela instalação Prada em Marfa  – que elaborou uma mansão dentro do V&A Museum, em 2013, usando peças do acervo do museu.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

 

Este mês é a vez da Galerie Perrotin, em Nova York, se transformar na (nova) casa de Mr. Swann.  “Ele perdeu toda sua herança e foi obrigado a se mudar para um apartamento menor no Upper East Side”, explicam os artistas. Os ambientes estão, portanto, cheios de elementos relacionados à sua biografia turbulenta, nostalgias, tristezas e pesares de sua vida pessoal. Vale reparar em cada detalhe: os desenhos da prancheta, as fotografias e os livros... Tudo tem uma história. A de Norman Swann, aliás, é sobre envelhecer e como os valores vão se deslocando ao longo do tempo. Ele pode ser considerado, assim, como uma metáfora do velho mundo que se recusa a encarar sua nova posição na sociedade.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Preste atenção, ainda, nos frascos de remédio com etiqueta escrito “Truvada” e “Prezista” – medicamentos relacionados ao tratamento de HIV. Com a tragédia pessoal de Mr. Swann, os artistas querem chamar atenção para o esquecimento da doença. Medicamentos como estes reduziram o índice de mortalidade ligado ao vírus e, por isso, a mídia não fala sobre o assunto.

Conversei com Elmgreen e Dragset sobre esta vontade de “brincar de decoradores” e os significados dos objetos presentes na vida íntima das pessoas.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Vocês criam narrativas usando a carga psicológica de elementos domésticos. Como nasceu esse interesse?
Nossa inspiração vem das telas do pintor Vilhelm Hammershøi que retratava salas vazias e deixava as imagens falarem sozinhas. Estamos interessados em como as pessoas criam uma imagem ou identidade através de objetos e de mobiliário, e como muitas vezes estas peças apontam em direções diferentes.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Por que criar um ambiente e não apenas pintá-lo como Hammershøi?
Somos péssimos pintores (risos), mas a ideia é que as pessoas brinquem de detetive. Elas precisam explorar e sentir os objetos. Mover-se pelo espaço e “xeretar” tudo: folhear suas revistas, olhar os álbuns de fotos, analisar os recortes, anotações e desenhos até verificar o que está debaixo da cama. Afinal, não é isso o que desejamos fazer quando entramos na casa de alguém?

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

E qual é a primeira coisa que vocês observam quando entram na casa de uma pessoa?
Quando visitamos alguém, nosso primeiro olhar vai direto para as estantes. Em seguida reparemos nas obras de arte nas paredes. O mobiliário, claro, também diz muito sobre o morador. É uma pena que muitas pessoas pararam de comprar livros para ler apenas e-books...Como espioná-los agora?

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Como vocês gostam de “decorar” uma casa, ou seja, selecionar estes objetos para criar uma personalidade?
A casa contém vestígios de diferentes períodos de tempo na vida de alguém. Ao observar esta configuração, podemos nos aprofundar em cada um desses períodos de uma forma não linear. Nós gostamos de combinar peças low end – objetos do cotidiano ou utilitárias – com itens high end, como antiguidades, raridades e peças de luxo. Por isso, foi muito bom trabalhar no Victoria and Albert, onde poderíamos escolher entre muitas coleções de diferentes épocas e estilos. Muitas vezes também demos sobrevida às peças e elas voltaram a ter sua função original – elementos domésticos tornaram-se, outra vez, úteis e não apenas objetos de museu em exposição.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Por que o Sr. Swann tinha que ser um arquiteto? A relação com a casa não seria tão forte se ele fosse um chef ou um ator?
Estamos interessados na maneira como os espaços dirigem o nosso comportamento e influenciam nossas vidas. A arquitetura diz muito sobre como as sociedades funcionam. Há também uma diferença interessante entre utopias arquitetônicas e sociais de um lado e realidades financeiras e pragmáticas do outro. Achamos interessante explorar esta dicotomia.  A história da arquitetura está muito mais intimamente ligada à da história das artes plásticas do que outras formas de arte. Portanto, “ser um arquiteto” é um fato que se encaixa melhor, de alguma forma, nos estratos sociais em que Swann opera.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Eu sei que Mr. Swann ainda mantém o espirito do velho mundo em sua nova casa. Quais seriam os elementos essenciais para um apartamento tipicamente nova-iorquino que ele precisa adquirir?
Ele se mudou para Nova York recentemente e não comprou nada de novo... Pelo menos não ainda (risos). Ele é uma pessoa muito antiquada e até prefere fazer seus desenhos arquitetônicos à mão, na sua prancheta de arquitetura bastante old school. Como todos os nova-iorquinos, ele tem um computador em casa, mas o seu é um velho Mac que está embalado numa caixa perto da porta da entrada de trás. Ele continua a trabalhar em um projeto que começou na década de 1980: desenvolver os piers do West Village como um local de encontro para homens gays. No plano, há piscinas, pequenas florestas, gramados e vestiários de tamanho duplo.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

Qual é a principal diferença entre Europa e América?
A Europa é mais contemplativa e calma. A America é mais dinâmica e barulhenta.

A exposição também fala sobre envelhecer. Você acha que os americanos são mais obcecados pela juventude que os europeus? O que é preciso fazer para mudar esta cultura?
Os norte-americanos são mais obcecados com tudo. Parece estar em seu DNA. Isso pode ser bom e ruim. Quando se trata da obsessão pela juventude, pode ser um problema, uma vez que a juventude não pode ser sustentada – todos nós envelhecemos e morremos. Nós não temos nenhuma ideia de como mudar isso, além de provocar histórias sobre os idosos e sobre experiências da vida real. Queremos mostrar beleza em sonhos desfeitos. Talvez todos devessem ler Stoner, de John Williams. É uma história sobre uma vida sem grandes acontecimentos, mas é possivelmente o livro mais emocionante já escrito.

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

 

Elmgreen & Dragset (Foto: divulgação)

 

 


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