Por todos os ângulos, natureza e liberdade, da forma mais intensa que se possa imaginar. Com esse propósito, a imponente construção de 900 m² saiu da prancheta dos arquitetos Paulo e Bernardo Jacobsen: linhas modernistas, mas, sobretudo, alma orgânica, voltada para atender a cada um dos sonhos dos proprietários. Era o melhor dos planos que um casal com filhos pequenos tinha para seus fins de semana. A fazenda Boa Vista, em Porto feliz, no interior de São Paulo, foi escolhida como um território valioso para revigorar a rotina de um executivo da indústria cinematográfica, repleta de viagens internacionais. “É um lugar com significado de mundo ideal: muito verde, segurança, e os vizinhos acabam se tornando amigos. Todos os desejos podem ser vivenciados”, aponta Paulo Jacobsen, à frente do escritório que leva seu sobrenome.
A casa segue uma filosofia arquitetônica nobre. Poucas delimitações e nada de entrada única, ou frente, ou fundos – para todos os lados há aberturas e vistas incríveis. O projeto se desenvolve em três volumes, dois no térreo e um terceiro sobre eles. Embaixo, o living, a área de lazer e o spa são o coração da morada. No mesmo plano fica a ala de serviços. O setor íntimo, com seis quartos, ocupa o segundo pavimento, onde a suíte do casal foi direcionada ao majestoso nascer do sol no lago.
O cumaru ripado, presente em toda a fachada e também nos espaços internos, aquece a linguagem modernista. “Apesar das formas retilíneas, dos grandes vãos e dos balanços estruturais, a casa ganha intimidade, calor e escala humana com esse recurso”, aponta Bernardo, filho de Paulo e coautor da obra. Para conectar os três sólidos surgem um pátio aberto, a varanda e a piscina de borda infinita. São pontos que adicionam leveza à construção, além de completarem a sensação de que ela flutua, mas não deixa, jamais, de fazer parte da paisagem.
Por mais que a vista para o lago pareça ter sido o start do projeto, ela apenas determinou um posicionamento. Os interiores, coordenados por Eza Viegas, foram prioridade na criação, que inclui peças de nomes estelares do design brasileiro. “Definir essa parte é como fazer um filme: imagino o fluxo dos moradores, estudo o movimento e o que é importante para eles ali”, observa Paulo. Em plano secundário, vêm as formas externas, “de arquitetura simples e poucos materiais”, ele conclui.
A casa expõe bem o DNA Jacobsen. a vida determina o desenho, que, por sua vez, absorve elementos naturais dos arredores. Uma espécie de triângulo homem-construção-natureza sem bloqueios, o que possibilita às crianças uma experiência livre, pouco vivida na semana regrada da metrópole. Eis o código que Paulo propõe a novas moradas e ícones como o Museu de Arte do Rio– Mar – e que exportou recentemente à Austrália, onde abriu escritório próprio. “Essa aura vem das minhas raízes na profissão, das casas que fiz no começo, em Angra dos Reis. Projetar é uma diversão, onde quer que eu esteja”, diz.
*Matéria publicada em Casa Vogue #356 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)