Uma obra que promete tomar para si o título de maior prédio residencial da Europa tem atraído as atenções da imprensa e do público ainda antes de ser completada – por motivos absolutamente inesperados. Trata-se do Edifício InTempo, em construção na cidade espanhola de Benidorm, que viu-se envolvido numa enorme polêmica depois que o jornal El País publicou uma reportagem revelando que seus elevadores não são capazes de servir todos os 47 andares da construção. “Só é possível subir sem esforço até o 20º andar; depois, só de escada”. O rumor percorreu o mundo na última semana, levantando dúvidas sobre a capacidade construtiva dos engenheiros e arquitetos locais.
Desenhado pelo escritório Roberto Perez Guerras Architects, o arranha-céu InTempo é composto por duas longas torres unidas no topo por uma peça cônica. Originalmente, o projeto somava apenas 20 andares – altura costumeira dos prédios da cidade. No meio do caminho, porém, quando a estrutura já estava sendo erguida, o desenho foi alterado. Outros 27 pavimentos foram adicionados ao projeto. Tal mudança mais que dobrou a altura da obra (agora estabelecida em 200 m), e tornou os elevadores existentes obsoletos.
A problemática tem a ver com dimensionamento. Quanto mais alto é um prédio, mais gente ele comporta no seu interior. Assim, são necessários mais elevadores para transportar adequadamente as pessoas. Outra opção é o emprego de elevadores mais rápidos. Tais equipamentos mais eficientes, normalmente, têm maquinários mais complexos e maiores, e, portanto, exigem um fosso também maior.
Eis o enrosco. Quando optaram por duplicar a altura do InTempo, as fundações do prédio já estavam fixadas. O esqueleto já estava quase pronto. Como, então, cavar mais fundo? Como criar fossos para novos elevadores? Qualquer alteração teria cara de remendo, dado o tamanho da reforma necessária.
Esta semana, o gerente de vendas do empreendimento, Rafael Ballesta, se pronunciou a respeito, e chamou as alegações feitas pelo repórter do El País de “ridículas”. “Estamos construindo o maior arranha-céu residencial da Europa, então como seria possível construí-lo sem elevadores?” Segundo ele, não há problema algum relacionado aos elevadores de ambas as torres. A jornalista Raquel López, que supostamente visitou a obra e subiu de elevador até a cobertura, dá suporte à sua fala.
Com ou sem elevadores, este não é o único problema a rondar a construção do InTempo. O primeiro baque aconteceu em 2009, quando a companhia responsável pela construção entrou em processo de falência. Com o agravamento da crise europeia, na época, investimentos foram cancelados. A solução foi a criação de outra firma, a Kono, com as mesmas pessoas da anterior.
Em julho de 2011, outra surpresa ruim, desta vez envolvendo a segurança no canteiro. Um elevador caiu com 13 operários dentro. Como a entrada para veículos não estava ainda pronta – para cortar custos – a ambulância não conseguiu chegar até os feridos. Por sorte não houve mortes, mas vários trabalhadores tiveram ferimentos graves.
Quando do lançamento do projeto em 2008, o site dos arquitetos dizia: “Um edifício majestoso, que marcará a história da arquitetura e do urbanismo, bem como da cidade de Benidorm”. Considerado a badalação que o escândalo do “prédio sem elevadores” anda causando, é possível dizer que a profecia já tenha sido cumprida. Fato é que mais de 90% da estrutura da construção já foi realizada e 35% dos 269 apartamentos do InTempo já foram vendidos.