Existem no mundo muitas cidades desprovidas de bons equipamentos culturais. Na contramão, há outras que concentram em curtos territórios inúmeras construções dedicadas ao lazer. Para a sorte dos moradores de Viana do Castelo, em Portugal, a cidade se enquadra na segunda categoria. A sua Praça da Liberdade, que já contava com dois edifícios de Fernando Távora, e uma biblioteca de Álvaro Siza, agora celebra o Centro Cultural de Eduardo Souto de Moura, recém-inaugurado – também encarado como um pavilhão multifuncional.
O projeto do segundo português a ganhar um Pritzker não foge à regra que ele mesmo se impõe: o minimalismo. O arquiteto é apegado às tradições. Ainda assim, de algum modo ele nunca deixa de ser contemporâneo. Este pavilhão é um ótimo exemplo. Mesmo que duas de suas principais características sejam fortemente modernistas, o lugar exala atualidade. É como se a soberania dos planos envidraçados e o desmascarar dos sistemas construtivos e auxiliares fossem conceitos de todo novos.
Vista pelo lado de fora, a construção chama atenção. Trata-se de um caixote baixo – com 9,12 m de altura – dividido ao meio longitudinalmente. Acima, a parte mais pesada: o maquinário e as tubulações superdimensionadas – tudo pintado de cinza chumbo. Do meio até o chão, nada. Ou quase isso. Nessa faixa encontram-se apenas quatro pilares homéricos e muito vidro. O pavilhão é imponente, embora simples. “É uma grande mesa com quatro apoios”, explica Souto de Moura do modo mais sintético possível.
O edifício de 3.792 m² se resolve em apenas três níveis – o térreo, o mezanino e o pavimento enterrado. A princípio, o pavilhão funciona como um grande ginásio poliesportivo. Porém, como a construção é dotada de piso elevatório, é possível reconfigurar seus espaços internos, de modo a torná-la adequada para eventos musicais e afins. Em dias de campeonato esportivo, calcula-se que o local comporte 1.500 pessoas (1.100 sentadas e 400 de pé). Quando alterado para receber eventos culturais, o pavilhão acomoda até 2.700 visitantes.
O acesso de todos se dá pelo térreo – jogadores ou artistas entram por um lado e o público pelo oposto. Neste piso estão o balcão de recepção, o guarda-volumes, o bar, a zona de controle geral da infraestrutura e alguns banheiros. Em cima, no mezanino, ficam as áreas administrativas, as cabines de tradução e projeção, a ala dos jornalistas e os camarotes. Esse andar é acessado tanto por rampas como por elevadores.
As arquibancadas e a quadra situam-se em níveis inferiores. Nestes locais a madeira é o único acabamento, enquanto o pavimento térreo tem piso de epóxi autonivelante cinza. Além dessas áreas, públicas, o pavimento enterrado carrega áreas de acesso restrito, como os vestiários e camarins, além das dependências de serviço. Junto a dois dos quatro elevadores há banheiros públicos neste andar.
Em termos de implantação, é válido dizer que o arquiteto foi bastante respeitoso. Ele seguiu tanto o alinhamento, como o gabarito dos edifícios de seus colegas, vizinhos de praça. Entre o Centro Cultural e a obra de Fernando Távora, há uma praça de 23 m de comprimento. No total, o prédio de Souto de Moura tem 70,1 m de comprimento, por 54,1 m de largura. É espaço mais que o suficiente para o desenvolvimento das mais diversas formas de lazer e cultura nesta antiga cidade litorânea com pouco mais de 91 mil habitantes.