Há décadas se fala sobre a degradação do Rio Doce, o maior curso d´água do Sudeste brasileiro, que nasce em Minas Gerais, atravessa todo o estado e termina no Espírito Santo. No entanto, a falta de providências efetivas para reverter o longo processo de agressões ambientais resultou no cenário mais crítico da história: pela primeira vez, as águas do rio não alcançam mais o Oceano Atlântico.
Antes com 380 metros de comprimento, sua foz recuou 60 metros continente adentro e acabou bloqueada por um banco de areia de dois metros de altura. Agora, o curso dele não alcança mais o ponto tradicional de encontro com o mar. O bloqueio observado há dois meses, no município de Linhares (ES), é mais uma etapa do grave quadro que se estende há anos. Segundo especialistas, a degradação acontece por diversos motivos, especialmente desmatamento e a poluição, que enfraquecem a vazão e potencializam uima crise hídrica.
As margens, antes envoltas em um cenário de densa Mata Atlântica, hoje ocupam campos devastados e em diversos pontos são invadidas por esgotos. “Essa é uma tragédia ecológica que completa a situação de agressões ambientais que o Rio Doce vinha sofrendo. Nunca antes a foz havia se fechado completamente. E isso se deve à destruição das matas ciliares, que barravam sedimentos vindos de outras áreas desmatadas, agora transformadas em pastagens e outros cultivos”, afirma o secretário-executivo do comitê da Foz do Rio Doce, Carlos Sangália, educador ambiental do Projeto Tamar, sobre a interrupção do rio, retratada pelo jornal A Gazeta, do Espírito Santo, em 23 de junho.
Comunidades já sofrem as consequências do quadro de enfraquecimento da vazão. Além da crise na pesca, também surgiram problemas de abastecimento de água. Uma das regiões mais afetadas é a vila de Regência Augusta (ES), situada justamente na foz do Rio Doce. Com a perda das forças do manancial do rio, o mar conseguiu avançar 20 quilômetros pelo continente. Assim, tornou-se mais difícil dessalinizar a água para torná-la potável. A comunidade recorre atualmente à abertura de poços.