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Ponto para François Pinault! O magnata francês, dono de grifes como Gucci, Balenciaga e Saint-Laurent, foi corajoso ao convidar o artista vietnamita Danh Vo para curar uma exposição da sua Punta della Dogana. Como era de se esperar, Slip of the tongue não é uma mostra fácil: Vo fala de violência, doenças e traumas – coincidência ou não, os temas dialogam diretamente com a mostra principal da Bienal deste ano, All the World's Futures, curada pelo nigeriano Okwui Enwezor – e não é exatamente um “deslize” como propõe o título, mas um grito de dor que está na ponta da língua dos artistas selecionados.
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Para quem não sabe, o artista-curador foi resgatado de um pequeno barco pela marinha dinamarquesa quando tinha apenas 4 anos e fugia da Guerra do Vietnã com a família. Danh Vo acabou, então, desenvolvendo obras que tratam de colonialismo, migração e tabus religiosos que estão presentes na mostra. Entre os destaques, estão We The People, uma recriação em cobre da Estátua da Liberdade dividida em 250 pedaços; 02.02.1861, última carta escrita por St. Jean Théophane Vénard antes de ser decapitado (aqui, reescrita pelo pai de Vo); Oma Totem, escultura formada por objetos dados à avó materna do artista pelo programa de apoio aos imigrantes do governo alemão nos anos 1970 (ela estava em outro barco e acabou na Alemanha e não na Dinamarca como o resto da família); e, 08:03, 28.05, lustre do séc. 19 que ficava no antigo salão de baile do hotel Majestic, onde foi assinado o primeiro acordo para o fim da Guerra do Vietnã.
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Ao lado de seus trabalhos, diálogos com obras desde o século 13 até peças de contemporâneos. A iraniana Nairy Baghramian assina a obra que dá nome à mostra: Slip of the tongue – um conjunto de esculturas languidas e uma vitrine de vidro. “As peças não são autossustentáveis e, por isso, precisam se apoiar nas paredes”, explica a artista que aponta para questões de poder que precisa ser visto como algo “ereto”.
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Nancy Spero, famosa por questionar diferentes abusos de poder e brutalidade, ganhou uma sala inteira para apresentar uma sequência de desenhos com 50 metros de comprimento. O tema? Luto: uma repetição compulsiva de mulheres egípcias chorando dão força dramática à obra, mas a sequência de tons e sombras garante um toque poético ao desenho-instalação. Vale lembrar: inicialmente Nancy queria representar a dor da guerra no Afeganistão e da destruição do furacão Katrina em New Orleans, mas seu marido faleceu durante o processo e o luto tornou-se pessoal.
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David Hammons usa roupas pretas, uma placa do Central Park West e cigarros “fumados por negros” para falar do preconceito e discriminação no Harlem. Já a cortina-escultura de Felix Gonzalez-Torres faz referência às células de seu sangue contaminado pelo vírus do HIV. A foto Piss Christ, de Andres Serrano, conhecido por experimentar com fluidos como leite e sangue, destaca a estátua do Cristo crucificado mergulhado em urina. Sim. É uma exposição intensa. Por isso, fica a dica: reserve uma manhã para a visita e vá com paciência (e estômago preparado) para ler os textos e absorver tudo com calma.
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Em tempo: este ano, o artista foi escolhido para representar a Dinamarca na Bienal de Arte. Não deixe de conferir suas obras no pavilhão do país. Em outubro, ele também terá uma individual no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madrid. E, em novembro, apresentará seus trabalhos no Singapore National Gallery, em Singapura.
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Fofocas dizem que muitas das obras escolhidas por Danh Vo não estavam na coleção de Pinault, mas o mecenas acabou comprando algumas. Pelo visto o francês acredita mesmo no artista-curador que se revelou um bom art adviser!
Slip of the tongue
Data: até 30 de novembro de 2015
Local: Punta della Dogana
Endereço: Dorsoduro, 2, 30123, Veneza, Itália
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