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Cantos e vazios de Carol

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  (Foto: Bruno Simões)

 

“O conceito de vazio é muito poético. Para mim, a beleza do vazio esta em percebê-lo, senti-lo e deixar estar assim.”, explica a artista e arquiteta Carolina Martinez cujo trabalho eu conheci através de um amigo galerista que queria representá-la. Fui visitar seu ateliê na Bhering – antiga fábrica de chocolate no Rio de Janeiro que, nos últimos quatro anos foi ocupada por artistas – e logo me apaixonei pela melancolia gráfica de suas telas feitas com folha de madeira.

Era 2011 e tudo acontecia. Ela, que fez cursos no Parque Lage enquanto estudava arquitetura na PUC-RJ, vendeu grande parte de sua produção durante a primeira Art Rio ainda no próprio ateliê – visitado por colecionadores interessados efervescente Fábrica Bhering – e estava sendo sondada por três galeristas. Resolveu ficar com Laura Marsiaj que abriu seu espaço em Ipanema no início deste ano para a individual Às avessas para qual Carol montou uma engenhosa e delicada operação metafórica: trazer o exterior para dentro de uma casa. Carol desafiava a percepção do espaço expositivo de forma extremamente poética com pinturas de fachadas, persianas e beirais sem mostrar o exterior para mimetizar a ideia de um outro lugar e instigar a imaginação. Entre as telas, uma instalação aproveitando o rodapé do espaço expositivo que ganhou corpo e, fugindo do “racionalismo” tradicional, tomou conta da galeria

  (Foto: divulgação)
  (Foto: Bruno Simões)
  (Foto: divulgação)
   (Foto: divulgação)

O sucesso foi absoluto. Além de vender todas as obras, esta jovem apaixonada por mate com limão e feijoada (como uma boa carioca!), foi comparada a ninguém menos que Cildo Meireles em sua primeira grande mostra:

“Tal como Espaços virtuais: Cantos (1967-68) e os Volumes virtuais (1968-69) de Cildo Meireles, as obras de Martinez são “desenhos” que utilizam três planos para definir uma figura no espaço. Ademais, cada um dos dois artistas a seu modo, realiza a transição do espaço bidimensional para um ambiente escultórico que se assemelha a uma casa. Paira sobre essas obras uma inversão das escalas. No caso de Martinez, o cubo/quarto/cômodo vira casa; o rodapé deixa de lado a sua insignificância e passa a ser o eixo central constituindo perímetros, áreas ou cantos de sólidos assim como ocorre nos Volumes Virtuais; e, finalmente a natureza é reduzida ou ampliada dependendo de como o espectador investe o seu olhar para o território criado pelas linhas econômicas, suaves e delicadas de suas pinturas”, nas palavras do crítico Felipe Scovino.

Pupila da arquiteta Bel Lobo e tiete de Tadao Ando, Carol investiga cantos e vazios a todos todo o tempo transformando-os em poesia plástica. “Gosto da interpretação do vazio de Terrain Vague do arquiteto e filósofo Solà-Morales: são espaços livres de determinação e uso...tornando-se assim espaços potentes para serem ocupados de qualquer maneira”, conta a artista que morou e trabalhou em um escritório de arquitetura em Barcelona em 2007. Desde aquela época, ela pesquisa estes espaços vazios que a inspiram e deram também origem a série Espaços imagináveis, apresentada este mês na exposição Novíssimos, na Galeria Arte Ibeu – uma exposição anual que busca mapear os mais novos talentos das artes plásticas.

Na nova fase, começou a usar verniz para criar volumes com diferentes texturas. “A ideia é retratar ângulos e cantos esquecidos que percebo no meu dia-a-dia”, explica Carol que, diferente de muitos artistas de sua geração, produz suas próprias fotos de referência e não busca imagens encontradas na internet ou produzidas por grandes fotógrafos – apesar de confessar grande admiração por Richard Pare.

Próximos projetos? Fã de Manoel de Barros e Carl Andre, Carol ainda assina projetos de arquitetura e se divide, hoje, entre a reforma de seu novo apartamento em Laranjeiras, para onde vai se mudar após o casório marcado para outubro, e uma série de gravuras. “Continuo me interessando pela madeira com material... Depois de pintar a folha de madeira, começo a me arriscar pela gravura”. Se eu pudesse definir Carol, seu ateliê e suas pinturas em uma palavra, seria “chic”. 

  (Foto: Bruno Simões)
  (Foto: divulgação)
  (Foto: divulgação)
  (Foto: Bruno Simões)
  (Foto: divulgação)
  (Foto: divulgação)
  (Foto: Bruno Simões)
  (Foto: Bruno Simões)
  (Foto: Bruno Simões)
   (Foto: Bruno Simões)

 


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